Uma volta na Ferrari 308 GTS, estrela do seriado Magnum, sucesso da TV no anos 80
Um seriado que tem uma Ferrari, um helicóptero, perseguições e tiros e ainda por cima se passa no Havaí? Não tem como dar errado, não é mesmo? E realmente foi uma receita de muito sucesso para Magnum P.I., que marcou toda uma geração de apaixonados por filmes de ação e também por carros. Isso porque uma das grandes atrações da produção era uma Ferrari 308 GTS usada sem dó, nem piedade. Conheça um pouco da história do modelo e confira o teste de um exemplar idêntico que está impecavelmente conservado Serra Gaúcha.
O seriado Magnum P.I. estreou na TV norte-americana em 1980 e teve oito temporadas exibidas pela CBS. No Brasil, também fez muito sucesso ao ser retransmitido pela Globo. O detetive particular Thomas Magnum, interpretado por Tom Selleck, com seu característico bigodão, utilizava a Ferrari 308 GTS como mera condução para investigar os seus casos no Havaí, cantando pneu, fazendo drift e andando em estradas de chão com mesma desenvoltura de um jipe 4×4.
O modelo usado no seriado foi uma Quattrovalvole ano 1984, que recentemente foi leiloada. No remake do seriado, que estreou nos Estados Unidos em 2018 e desde o final de 2023 é exibido pela Globo, a 308 GTS é destruída logo no primeiro episódio e acaba substituída por uma Ferrari mais moderna, a 488 Spider, equipada com um V8 de 670 cv. No papel de Magnum está Jay Hernandez, mas agora sem o característico bigode, raspado já no primeiro episódio.
A Ferrari 308 foi lançada em 1975 e, em 1977, teve a carroceria de fibra substituída pela feita em aço. A mudança aumentou o peso total do carro em 150 kg, de 1.050 kg para 1.200 kg. Este exemplar das fotos, apesar de ter sido fabricado em 1978, é idêntico ao usado no seriado. O colecionador é um grande fã da produção televisiva e comprou o modelo em Miami no ano de 2010, importando-o para o Brasil juntamente com um Chevrolet Corvette 427 conversível 1968.
A principal diferença da 308 GTS em relação à irmã 308 GTB, a Berlineta, é que a GTS tem teto targa, que pode ser removido e guardado atrás dos bancos. Além disso, no lugar dos vidros traseiros da GTB, a GTS tem painéis plásticos.
Motor V8 de 214 cv
Esta GTS é equipada com motor V8 a 90 graus, 3.0, dotado de carburador quádruplo Weber. O propulsor desenvolve 214 cv a 6.600 rpm e 24,8 kgfm de torque a 4.600 rpm, ótimos números para o final dos anos 70.
A tração é traseira e o câmbio manual tem 5 marchas. Conforme dados de época da fábrica, o esportivo italiano era capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 6,8 s e atingir velocidade máxima de 233 km/h.
O V8 pode não ter a aura do V12, o preferido do comendador Enzo Ferrari, mas tem um som belíssimo. Na minha opinião, o V12 é uma verdadeira orquestra sinfônica, enquanto o V8 é uma competente orquestra de câmara. Porém, tanto o V8 quanto o V12 produzem um ronco que soa como música aos ouvidos dos apaixonados.
Em 1980, o carburador foi substituído pela injeção mecânica Bosh K-Jtronic. Até 1985, quando a 308 saiu de linha, foram produzidas 12.149 unidades.
Design tem muita personalidade
O design em cunha tem muita personalidade, que é acentuada quando são acionados os faróis escamoteáveis. Chamam a atenção a baixa altura, de apenas 1,12 m, e a boa largura, de 1,72 m. Já o comprimento totaliza 4,23 m e o entre-eixos, 2,34 m.
Na lateral, há entradas de ar para refrigerar o motor central traseiro. As rodas aro 14’’ têm um design clássico da Ferrari.
Embreagem pesada, como pede um esportivo raiz
Depois remover o teto targa, finalmente chegou o momento de dirigir a 308 GTS. Programa perfeito para uma ensolarada manhã de primavera na Serra Gaúcha.
Como todo bom esportivo raiz, por dentro essa Ferrari é apertada e a posição de dirigir é bastante baixa. Mas a sensação é que a gente veste o carro e, em apenas dois minutos, eu já estava muito à vontade. Chama bastante atenção a grande quantidade de botões no console central e, no painel, o tacômetro, com a faixa vermelha começando um pouco antes das 8.000 rpm.
Viro a chave e o som do motor revela-se imponente, mesmo em ponto morto. Aciono a embreagem – bastante pesada, uma característica da marca na época – e engato a primeira na grelha.
A direção mecânica também é pesada durante as manobras, mas em movimento o volante oferece um peso na medida certa, passando bastante confiança. O ronco do V8 instiga o motorista a acelerar mais e mais, principalmente acima das 4.000 rpm, quando ele acorda de vez. Como a faixa de trabalho é ampla, parece que não chega nunca a hora de trocar de marcha. Nas curvas, a suspensão dura mostra a que veio e faz o carro grudar no chão. Com o rosto ao vento, por alguns minutos senti o gostinho do que, para Tom Selleck, era rotina durante as gravações de Magnum. Foi uma experiência incrível e me deu até vontade de deixar o bigode crescer.
Mais de quatro décadas já se passaram desde a estreia do seriado original e muitas novas Ferraris foram lançadas desde então, todas mais velozes e potentes. A 308 GTS, porém, escreveu seu nome na história e, para os fãs de Magnum P.I., sempre será uma das favoritas.