Um Jeep Compass eletrizante: confira como anda o híbrido 4xe, que tem 240 cv. Vale a pena comprar a versão?

As poucas diferenças em relação às demais versões são a cor azul ao redor dos logos “Jeep” e “Compass” no capô, portas dianteiras e porta-malas | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Potência combinada de 240 cv – que permite acelerar de 0 a 100 km/h em 6,8 s e atingir velocidade máxima de 206 km/h – com um consumo prometido de dar inveja à maioria dos carros 1.0: 25,4 km/l na cidade e 24,2 km/l na estrada. O tecnológico Jeep Compass Série S 4xe (pronuncia-se “four by e”) híbrido plug-in desembarcou da Itália em abril de 2023, ampliando as opções eletrificadas no mercado nacional. Mas será que vale a pena pagar R$ 347,3 mil pela novidade? Afinal, são R$ 77,3 mil a mais que os R$ 269,99 mil pedidos pela versão a diesel Trailhawk TD350 4×4 e R$ 97,31 mil a mais em relação à Série S T270 flex, comercializada por R$ 249,99 mil.

O exemplar enviado pela montadora para o tradicional teste de uma semana é na cor branca com teto preto. As únicas diferenças em relação às demais versões são os faróis com design exclusivo full LED e a cor azul ao redor dos logos “Jeep” e “Compass” no capô, portas dianteiras e porta-malas. Na traseira também fica o logotipo “4xe”, que tem a última letra pintada igualmente em azul. Os mais atentos observarão uma segunda tampa de “combustível”, no para-lama traseiro esquerdo, para plugar o conector de recarga (padrão europeu Type 2, o mais comum no Brasil) que vem junto de fábrica e fica acondicionado no porta-malas.

Assim que o motorista assume o seu posto de pilotagem, percebe que não está a bordo de um Compass convencional, principalmente pelos comandos específicos para ajustar o powertrain e pelo cluster exclusivo, que exibe informações adicionais sobre nível da bateria e autonomia. Ao volante, as diferenças em relação às versões a gasolina/álcool ou diesel ficam ainda mais evidentes. O carro acelera forte quando provocado e é muito mais rápido que a versão S T270 flex, que faz de 0 a 100 km/h em 9,5 s e atinge 203,5 km/h com gasolina. Quando conduzido com tranquilidade, como no anda e para das grandes cidades, apenas os motores elétricos são acionados, proporcionando economia e muito silêncio a bordo. Durante o teste, em vários momentos o painel de instrumentos mostrou consumo urbano acima de 15 km/l, mas a média geral ao longo de 449,6 km (50% estrada e 50% cidade) foi de 13,9 km/l. Nada que empolgue muito.

O 1.3 T270 turbo de quatro cilindros bebe apenas gasolina, ao contrário do motor flex das demais versões | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

O motor 1.3 T270 turbo de quatro cilindros aceita apenas gasolina – ao contrário dos demais, que são flex – e desenvolve 180 cv de potência a 5.750 rpm e 27,55 kgfm de torque (270 Nm) bem cedo, já em 1.750 rpm, acoplado ao câmbio automático de seis marchas. Esse propulsor recebe uma ‘‘mãozinha” de um motor elétrico, que também cumpre a função de gerador. O conjunto gera tração no eixo dianteiro e também produz eletricidade para as baterias.

No eixo traseiro fica o segundo motor elétrico, que desenvolve 60 cv de potência e 25,51 kgfm de torque (250 Nm), tudo disponível instantaneamente. Dessa forma, o Compass 4xe é um 4×4 diferente, que dispensa eixo cardã. A gestão eletrônica garante tração nas quatro rodas sempre que necessário. Se a bateria estiver com baixa carga, o motor dianteiro gera energia elétrica para ser enviada ao conjunto traseiro.

Parte do espaço antes ocupado pelo eixo cardã é preenchido, nesta versão, pela bateria de alta tensão, que também fica sob os bancos traseiros. A bateria tem tensão de 400 Volts, refrigeração independente e possui inversor de corrente integrado. O conjunto fica dentro de um invólucro metálico que, segundo a Jeep, é resistente inclusive à imersão na água. As baterias têm capacidade total de 11,4 kWh, possibilitando uma autonomia 100% elétrica de até 30 km pelo ciclo Inmetro (44 km pelo padrão WLTP).

Quatro modos de condução

O Compass 4xe oferece quatro modos de condução, que ajustam parâmetros como mapa da troca de marchas, resposta do acelerador e assistência da direção elétrica:

Auto: o sistema analisa continuamente dados como velocidade, inclinação e aderência para entregar, automaticamente, a melhor performance e eficiência.

Snow (neve): é voltado para condução em pisos muito escorregadios, adequando o conjunto mecânico para situações de baixíssima aderência.

Sand/Mud (areia/lama): ideal para trilhas enlameadas ou com piso macio.

Sport: concebido para extrair o máximo da potência e torque.

Os modos de condução são complementados pelas opções 4WD Lock, 4WD Low e HDC (assistente de descida), que ampliam a capacidade off-road.

O conjunto híbrido proporciona à versão uma capacidade de reboque de até 600 kg (nas demais configurações, é de 400 kg). O 4xe pesa 1.908 kg, um total de 319 kg a mais que a S T270 turbo flex.

O tanque tem capacidade para apenas 36,5 litros, contra 60 litros da versão flex. No porta-malas, cabem 420 litros de bagagem, contra 476 litros da versão flex.

Funcionalidades exclusivas Electric, e e-Save e Hybrid

Opções podem ser acionadas por botões do lado esquerdo do volante | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Do lado esquerdo do volante, estão outras três funcionalidades, que podem ser acionadas pelo condutor por meio de botões:

Electric:  o carro utiliza somente o motor elétrico traseiro, possibilitando uma condução 100% livre de emissões. Com essa configuração é possível acelerar a até 130 km/h e rodar 30 km. O motor a combustão só entrará em ação caso o motorista pise fundo no acelerador ou se a bateria chegar ao nível mínimo de carga.

e-Save: essa configuração tem dois modos de funcionamento e permite manter ou mesmo carregar a bateria usando a própria força do motor a gasolina. No modo passivo, o e-Save mantém o nível de carga da bateria, permitindo usar a propulsão 100% elétrica no futuro. Quando o e-Save passivo está ativado, a central eletrônica usa a frenagem regenerativa e o motor térmico para evitar que a bateria saia do nível de carga atual. O e-Save também possui o modo ativo, que usa o motor elétrico acoplado ao conjunto a combustão para carregar a bateria sem que o motorista precise se preocupar em encontrar uma estação de recarga. No modo e-Save ativo, a bateria pode ser recarregada automaticamente até chegar a 80%. Para obter os 20% restantes, é necessário plugar o carro na tomada.

Frenagem regenerativa inteligente

O sistema híbrido plug-in permite aproveitar ao máximo outro recurso dos motores elétricos: a frenagem regenerativa. Ao pisar no freio de forma suave, o gerenciamento eletrônico usa os próprios motores elétricos para gerar eletricidade. Além de recarregar a bateria, é possível reduzir a velocidade do veículo sem a necessidade de acionar os freios a disco.

Esse comportamento pode ser intensificado ao acionar o botão e-Coasting próximo ao sistema multimídia. Ao ser ativado, amplia a regeneração de energia em desacelerações, sempre que o acelerador é aliviado. O e-Coasting tem dois modos de funcionamento, suave e intenso. Este último aumenta ainda mais a transformação de energia cinética em elétrica nas desacelerações, permitindo até, em alguns casos, que seja possível dirigir o Compass 4xe sem pisar no freio. Caso o motorista freie de forma mais forte ou a frenagem autônoma de emergência (AEB) identifique o risco de colisão, os freios a disco nas quatro rodas são acionados normalmente.

Recarga pode ser feita na tomada de casa

Carregador doméstico portátil vem de fábrica e pode ser conectado a uma tomada de 110V/220V de três pinos | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

É possível repor a energia da bateria de duas maneiras. A primeira é usando o carregador doméstico portátil que vem de fábrica e conectado a uma tomada de 110V/220V de três pinos. A recarga demora entre quatro e 20 horas, de acordo com a tensão escolhida. Também é possível optar por um carregador de parede (wallbox) da Weg ou EnelX (ambos homologados pela marca). O aparelho dispensa instalação trifásica e tem potência de 7,4 kW, possibilitando a recarga completa em 100 minutos no modo mais rápido ou em nove horas no mais lento.

Também é possível programar o carregamento para o horário em que a tarifa for mais barata. O agendamento da recarga pode ser feito pelo sistema multimídia ou por meio do smartphone no aplicativo conectado à plataforma Adventure Intelligence.

Durante o teste, uma pane a caminho do hospital

Como o powertrain não apresentava qualquer sinal de vida, a solução foi conectar o Compass aos ”aparelhos” – neste caso, a extensão que alimentava a betoneira | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Nesta vida, há pelo menos duas certezas: 1) são os bebês que escolhem o momento em que vão nascer; 2) baterias de carros elétricos e híbridos se descarregam rapidamente em situações de aceleração total.

Importante dizer isso para contextualizar o que segue. A cesárea do meu segundo filho estava marcada para 12 de setembro, mas o apressadinho resolveu vir antes. No dia 6, a esposa acordou com fortes contrações e usamos o Compass 4xe, que estava estacionado na rua, para ir até o hospital, em Novo Hamburgo, distante 33 km da nossa casa. Por sorte, na noite anterior eu havia carregado a bateria, que estava cheia. Já o nível do tanque de gasolina estava baixo, mas ainda não havia entrado na reserva. No caminho, porém, as contrações pioraram e tive que acelerar forte. Para minha surpresa, após andar 30 km, ocorreu uma pane: a bateria foi totalmente descarregada e, o que é pior, não ocorreu a transição automática para o motor a gasolina. A muito custo, consegui estacionar o carro em frente a uma sorveteria do bairro São José, em Novo Hamburgo, e pedi ajuda ao primeiro motorista que estava passando para nos levar ao hospital. Sufoco total, situação que eu só havia visto na tevê.

Depois que o bebê nasceu e a adrenalina baixou, à tarde voltei para resolver o problema. Consegui uma extensão emprestada com pedreiros que realizavam uma obra e, após duas horas, consegui dar uma recarga e ligar novamente o carro. Fui até um posto para colocar mais gasolina, por segurança, mas não parecia ser este o problema. De qualquer maneira, pelo menos o carro da montadora não pagou o mico de ter que voltar de guincho para a concessionária e, após o percalço, foi possível terminar o test-drive sem mais contratempos. Contatada, a assessoria de imprensa da montadora revela que o carro foi inspecionado e nada de anormal foi detectado.            

Tecnologia e segurança a bordo

Painel de instrumentos é exclusivo da versão, proporcionando visualização da carga das baterias e regeneração | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

A versão S traz teto-solar panorâmico Command View, faróis com facho alto automático, assistente de estacionamento semiautônomo, sistema Adas com controlador de velocidade adaptativo, alerta de mudança de faixa com correção, leitor automático de placas, alerta de veículo no ponto cego e frenagem autônoma de emergência com detecção de pedestres, ciclistas ou motociclistas. Para completar, vem ainda com sete air bags.

O pacote ainda traz o sistema de visão 360 graus exclusivo. Usando câmeras posicionadas sob os retrovisores, na grade do radiador e na tampa do porta-malas, o motorista pode ter uma visão panorâmica ao redor do carro. Além de facilitar manobras, o recurso é extremamente útil no off-road, permitindo a visualização de obstáculos mesmo em trilhas fechadas e inclinadas. 

Também traz sistema de som premium Alpine com 8 alto-falantes, subwoofer e 506 Watts de potência. A segunda fileira de bancos conta com uma saída de ar-condicionado exclusiva no console central, dois conectores USB (sendo um do tipo C) e assentos tripartidos.

A central multimídia Adventure Intelligence de 10,1’’ tem integração com Android Auto e Apple Carplay sem fio. Além disso, o Compass 4xe traz quatro conectores USB, incluindo dois do tipo C, para recarga de smartphones. Os que estão localizados no painel ainda possuem ligação com a central multimídia. 

Graças à conexão via Internet integrada ao veículo, o motorista pode consultar a autonomia, checar detalhes do consumo, programar e ver o tempo de recarga e até ativar o ar-condicionado à distância a partir de um smartphone ou usando a assistente virtual Alexa.

Garantia e preços das revisões

A garantia é de cinco anos para a bateria de tração (bateria de alta tensão e sistemas elétricos do modo híbrido), que complementa os três anos oferecidos em todos os modelos Jeep.

As revisões do Compass 4xe devem ser realizadas a cada 15 mil km e têm valores acessíveis: R$ 652,00 para a primeira (15 mil km), R$ 1.056,00 para a segunda (30 mil km), R$ 652,00 para a terceira (45 mil km), R$ 1.982 para a quarta (60 mil km) e R$ 890,00 para a quinta (75 mil km).

Resumo da Resenha

Disponibilizando quase que uma infinidade de botões e modos de condução para selecionar, o Compass 4xe é uma tentação para quem adora tecnologia e ainda não quer ir direto para o carro elétrico. Os híbridos, aliás, revelam-se uma solução mais adequada para um País de dimensões continentais como é o Brasil.   

O modelo é ideal para quem anda bastante no trânsito urbano. Porém, na minha visão híbridos plug-in não fazem muito sentido, pois se for para ter que carregar o carro na tomada todas as noites, então que seja 100% elétrico.  

Conforme a Jeep, é possível economizar mais de 120 litros de gasolina por mês considerando o uso em modo elétrico dentro do máximo da autonomia e consumo médio. Considerando o preço médio de R$ 6,00 da gasolina, isso dá R$ 720,00 por mês. Mas outra conta precisa ser feita: quantos quilômetros é possível rodar com os R$ 97,31 mil a menos pagos pela Série S T270 flex, comercializada por R$ 249,99 mil? Com esse valor, dá para comprar 16.200 litros de gasolina, por esse valor médio de R$ 6,00 o litro. Como essa versão promete rodar 10,2 km/l na cidade e 11,7 km/l na estrada, o que dá uma média de 10,95 km/l, seria possível andar 177.390 km com o dinheiro economizado.

Enfim, cada caso é um caso, mas vale a reflexão em relação a esse montante extra pedido pelo 4xe, bem como à futura depreciação do valor de revenda de um híbrido, que tende a ser maior do que a registrada em um carro a combustão. O calcanhar de aquiles do Compass 4xe, porém, é a baixíssima autonomia no modo puramente elétrico, de apenas 30 km pelo ciclo Inmetro, que é o que vale para os brasileiros.