Sonho americano: confira o teste da Ford F-150, a gigante com motor V8 de Mustang e desempenho esportivo
Motor V8 de Mustang, porte imponente, espaço a bordo e muita tecnologia. A Ford F-150 é um verdadeiro sonho para os norte-americanos! E também para os brasileiros: essa gigante está à venda no mercado nacional desde abril de 2023. São duas versões: a Lariat, por R$ 479,9 mil, e a topo de linha Platinum, por R$ 519,9 mil. Confira as impressões ao dirigir.
A F-150 é simplesmente a picape mais vendida na América do Norte há 47 anos consecutivos. O modelo está na sua 14ª geração e totaliza mais de 41 milhões de unidades produzidas. O exemplar cedido pela montadora para o teste do site Carros e Carangas é ano/modelo 2023. A linha 2024 já foi lançada no início do ano nos Estados Unidos com pequenas mudanças nos para-choques e faróis.
A frente alta transmite muita força e é composta pela grade repleta de detalhes cromados, bem como os faróis duplos com a luz diurna em formato de C. As rodas em liga-leve aro 20” são calçadas com pneus 275/65. Nesta versão Platinum, a diferença principal são grade, rodas e retrovisores cromados, que na Lariat são na cor preta. Já à primeira vista, a F-150 impressiona por suas dimensões imponentes: são 5,88 m de comprimento, 3,69 m de entre-eixos e 1,96 m de altura. A largura totaliza 2,09 metros, medida que com os espelhos aumenta para 2,43 m.
A F-150 é meio metro mais comprida que a Ranger (5,37 m), 8 cm mais alta e 22 cm mais larga. A minha garagem tem 6 metros de comprimento e o espaço que sobrou na frente e atrás foi mínimo. No geral, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, as vagas nas ruas e shoppings brasileiros ainda não estão dimensionadas para veículos deste porte.
Mas apesar deste tamanho todo, a F-150 é apenas 160 kg mais pesada que a Ranger Limited. São apenas 2.517 kg, pouco para um veículo deste porte. Mas qual é o segredo? A carroceria é totalmente feita em alumínio, material que alivia o peso em 200 kg.
Tampa da caçamba e estribos elétricos
E justamente por ser alta, para facilitar o embarque e desembarque, a picape conta com estribos laterais elétricos e retráteis. Olha só que prático: a tampa da caçamba também tem acionamento elétrico, baixando e levantando com o simples apertar de um botão. Moleza total! Por fim, vem com uma útil escada de acesso. Para abrir o capô, há amortecedores para tornar a tarefa mais simples e aumentar a segurança.
A patada do V8 do Mustang
O V8 5.0 Coyote é o mesmo do Mustang, mas rende 405 cv, 78 cv a menos que o Mustang 2023. O torque, porém, é o mesmo: 56,7 kgfm. Vale lembrar que o motor do novo Mustang ficou um pouco mais forte: agora são 488 cv e 57,55 kgfm de torque.
Mas por que a Ford deu essa domada na cavalaria? A Engenharia diz que as propostas de uso do Mustang e da F-150 são obviamente muito distintas e que, na picape, foi privilegiada a melhor relação entre o peso e a potência. O redimensionamento da potência ocorreu também em função da adequação às regras de emissões. De qualquer maneira, bem que esse motor merecia um acabamento visual mais agradável.
É tanta força que a 80 km/h este V8 gira a apenas 1.200 rpm e a transmissão está na 8ª marcha. Ou seja: sobraram mais duas marchas para usar em velocidades mais elevadas, a 9ª e a 10ª. Há opção de trocas manuais na manopla e 8 modos de condução. A tração 4×4 conta com reduzida.
Como o motor é o mesmo do Mustang, quando se acelera forte, o ronco lembra bastante o do esportivo. É claro que não tem aquela mesma aceleração de tirar o fôlego do Mustang, mas a F-150 é muito ágil para uma picape deste porte: a aceleração de 0 a 100 km/h leva apenas 7,1 s, número melhor do que muito carro esporte por aí. Já a velocidade máxima é limitada eletronicamente a 180 km/h. A título de comparação, o Mustang, com seus 1.836 kg, acelera de 0 a 100 km/h em 4,3 s e atinge 250 km/h, também eletronicamente limitada. Interessante é que o Mustang GT Performance 2024 custa R$ 529,9 mil, apenas R$ 10 mil a mais que a F-150 Platinum. Logicamente que são dois conceitos totalmente distintos, mas é tentadora a possibilidade de levar um esportivo desses para a garagem, não é mesmo?
Também é impressionante como a picape se impõe no trânsito. Até aqueles motoristas que ficam trancando a pista da esquerda costumam dar lado para a F-150.
Consumo: apetite voraz por gasolina
A Ford promete 6,3 km/l na cidade e 8,6 km/l na estrada. Durante o teste, a F-150 fez facilmente 7,5 km/l na estrada, chegando aos 8,6 km/l apontados pela montadora. Na cidade, não passou dos 6 km/l. Se pisar forte, aí despenca para 4 km/l. Ao longo dos 473,5 km percorridos (50% cidade e 50% estrada), a média geral foi de 5,7 km/l. O computador de bordo ainda indicava autonomia de 167 km.
O tanque comporta 136 litros de gasolina e, na teoria, daria para percorrer 1.020 km se o motorista conseguir se comportar o tempo inteiro, sem cair na tentação de acelerar. Susto mesmo é abastecer a F-150. No início do teste, quando o painel ainda indicava autonomia de 150 km, uma passada no posto totalizou R$ 586,53. Mas na terra do Tio Sam, onde a gasolina é mais barata e o poder aquisitivo médio é maior em relação aos brasileiros, encher o tanque pesa muito menos no bolso.
Para dirigir, basta apenas a carteira B
Uma pergunta recorrente que muita gente me fez durante esta inesquecível semana de testes foi se precisa carteira C para dirigir a F-150. Não é necessário, basta a carteira B, pois só é considerado um caminhão o veículo que tiver mais de 3,5 toneladas de Peso Bruto Total (PBT).
Muito espaço a bordo
Por dentro, a F-150 é uma verdadeira sala de estar. Maior que muito quitinete por aí. Os bancos são bastante largos, projetados para uma parcela crescente dos norte-americanos que está acima do peso. Este é um dos poucos veículos que realmente levam três adultos no banco traseiro. Mas o assento do meio não é muito confortável porque o apoia-braços, quando recolhido, pressiona levemente as costas.
O espaço para as pernas é igualmente generoso e o assoalho plano contribui para o conforto dos passageiros. Os materiais de acabamento são de primeira qualidade. Os bancos dianteiros contam com ventilação e aquecimento, enquanto os assentos traseiros têm apenas aquecimento. Debaixo dos bancos traseiros há dois porta-objetos.
Manopla do câmbio rebatível
A F-150 é repleta de boas surpresas. Basta apertar um botão para acionar a manopla do câmbio retrátil. Mas para que serve essa função? Para levantar e estender a tampa do encosto de braço, transformando o console central em uma mesa de trabalho, apoiando um notebook, por exemplo. Uma tomada de 110 volts próximo do multimídia ajuda a reforçar essa função de escritório. Muito útil, pois muita gente usa essa picape para o trabalho nos Estados Unidos.
Apertando outro botão, é possível levantar esse apoia-braços para ter acesso a um porta porta-objetos gigante. Outros diferenciais são o volante e os pedais com ajustes elétricos. Assim, os baixinhos poderão fazer todas as regulagens necessárias em busca do posto ideal de direção.
Tecnologias de assistência à condução
O painel de instrumentos digital e configurável de 12″ é bastante intuitivo de usar. O multimídia também de 12” é equipado com Sync 4 e reforça o apelo tecnológico. Cada vez que é ligado, mostra uma animação que remete aos 75 anos de fabricação da série F. O sistema de som é composto por 18 alto-falantes.
Essa picape é bruta, mas tecnológica: de série, traz piloto automático adaptativo (ACC) com Stop & Go, assistente autônomo de frenagem e detecção de pedestres, assistente de manutenção e centralização na faixa, assistente de descida, sistema de monitoramento de ponto cego com cobertura de reboque, câmera traseira com detecção de objetos e assistentes de manobras evasivas e cruzamentos, bem como 8 air bags. Para conferir o ACC em ação, além de muitos outros detalhes, basta acessar o link do teste da F-150 no canal Carros e Carangas no YouTube.
É claro que não poderia faltar teto solar numa picape deste porte e preço. O equipamento tem grandes dimensões e garante ótima luminosidade a bordo.
Boa estabilidade
A suspensão dianteira é independente e a traseira conta com eixo rígido e feixe de molas. Mas como toda picape montada sobre chassi, a F-150 tem um pouco daquele balanço característico observado quando se passa em desníveis no asfalto. Particularmente, achei-a mais confortável que a Ranger. Nas curvas, também entrega boa estabilidade. Apesar da segurança extra proporcionada pelos controles eletrônicos, o motorista precisa ter sempre em mente que está dirigindo um veículo alto, comprido e pesado. Por isso, cautela nunca é demais.
Caçamba com acionamento elétrico
Na caçamba, que conta com tomada 110 volts, podem ser levados 1.370 litros. A capacidade de carga é de apenas 728 litros. Já a capacidade máxima de reboque é de 3.515 kg. A picape traz um assistente de reboque, que armazena informações e realiza ajustes para tornar as manobras mais seguras, assim como o sistema de câmeras 360 graus.
Resumo da Resenha
Basta dirigir a F-150 para comprovar porque ela é um sucesso no exigente mercado norte-americano. Potente, espaçosa e tecnológica, acumula 75 anos de evoluções, permitindo grande versatilidade de uso. Há concorrentes de peso neste segmento no Brasil, como Chevrolet Silverado e Ram 1500, ambas dotadas de motor V8 a gasolina e pacote similar de equipamentos. Mas somente a F-150 tem essa aura que representa com muita fidelidade o estilo norte-americano de vida, o famoso “american way of life”.