Sensação do Salão de São Paulo de 1990, a mítica Ferrari F40 ainda mexe com o imaginário dos brasileiros
Mítica, lendária, uma verdadeira obra de arte sobre rodas. Faltam adjetivos para definir com exatidão aquela que é considerada uma das mais belas Ferraris da história: a F40. Projetada especialmente para celebrar os 40 anos da marca italiana, foi lançada em 21 de junho de 1987 no Salão de Frankfurt. Na mostra automotiva de São Paulo em 1990, foi a grande atração no estande da Fiat, criando, a partir daí, uma ligação afetiva muito especial com os brasileiros. Passados 33 anos, segue no imaginário dos apaixonados por esportivos.
A F40 chegou numa época em que a potência da maioria dos carros nacionais não chegava aos 100 cv. No mundo, dava para contar nos dedos os modelos de fábrica que passavam dos 350 cv, 400 cv. Eis que, então, veio a F40, com seu motor V8 2.9 biturbo com incríveis 478 cv, número estratosférico para a época, principalmente para o mercado nacional, que acabara de ser reaberto às importações pelo então presidente Fernando Collor de Mello. O chefe do Executivo, inclusive, dirigiu o exemplar, hoje pertencente a um feliz colecionador de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Aquela havia sido mais uma das ações de marketing protagonizadas pelo presidente, que lutava karatê e adorava andar em carrões e em jet-ski, mas em dezembro de 1992 renunciou antes de sofrer processo de impeachment.
A F40 foi concebida com foco total no desempenho. Por isso, o ar-condicionado era o único item de conforto a vir de série. Vidros elétricos e direção hidráulica para quê? Só para aumentar o peso. E mais peso significa sacrificar o desempenho. Nem pensar. Por isso, não há sequer maçaneta para abrir as portas, o que é feito por meio de uma corda. Nada sofisticado, mas bastante funcional. E quanto ao rádio? Seria um sacrilégio ouvir alguma música que não fosse a sinfonia do motor V8. Também não conta com estepe. Em vez disso, há uma garrafa para encher o pneu caso algum prego se atreva a aparecer pelo caminho.
Estabilidade inigualável
A F40 tem chassi tubular e carroceria feita em materiais compostos: fibras de vidro, carbono e kevlar, mesmo material usado nos coletes à prova de balas. Essa rigorosa dieta deu muito certo, resultando em apenas 1.235 kg, total que inclui “tanque cheio”. Tanques, na verdade, pois são dois, com 60 litros cada, comportando 120 litros de gasolina.
Toda essa “leveza do ser” permite aceleração de 0 a 100 km/h em 4,1 s e retomadas de tirar o fôlego, bem como velocidade máxima de 324 km/h. Os dois turbos entram em ação a 3.500 rpm, soltando a cavalaria para as rodas traseiras. O consumo é bom para um superesportivo: 5,4 km/l na cidade e 9,7 km/l na estrada, conforme a Ferrari indicava na época.
A baixa altura da carroceria (1,12 m), aliada à generosa largura (1,97), à suspensão independente nas quatro rodas e aos pneus largos (245/40 ZR17 na dianteira e 335/35 ZR na traseira) fazem o modelo grudar no asfalto. A distribuição de peso, proporcionada pela instalação traseira-central do propulsor, e a baixa altura em relação ao solo, de apenas 12,5 cm, oferecem grande equilíbrio nas curvas.
Faróis escamoteáveis
O design foi tão revolucionário para a década de 1980 que, três décadas e meia depois, ainda segue atual. As proporções beiram a perfeição e contribuem tanto para a estabilidade quanto à eficiência aerodinâmica. Os faróis escamoteáveis mudam significativamente a personalidade desta máquina, pois se abrem quando ligados.
Na traseira, a sensação de largura aumenta devido às quatro lanternas e às três saídas de escape posicionadas ao centro. O aerofólio gigante estende-se até a altura do teto, garantindo down force e também um visual irado. Na hora de parar, entram em ação os discos ventilados com 33 cm de diâmetro, uma das muitas tecnologias emprestadas da equipe de Fórmula 1 da Ferrari.
Bancos em concha
No interior, há apenas o básico para que se possa extrair o máximo desempenho deste esportivo de dois lugares. Não há luxos como porta-luvas ou forro nas portas, mas há o imprescindível, como os bancos em concha.
Pilotos que tiveram o privilégio de testá-la relatam que o câmbio manual exige força durante as trocas, mas o volante é macio, apesar de não contar com assistência hidráulica. Quando os dois turbos estão a pleno vapor, o barulho interno é quase ensurdecedor, chegando a 78 decibéis. Mas nada que vá incomodar quem tiver a chance de pilotá-la.
Ao todo, estima-se que apenas 1.315 unidades foram fabricadas até 1992. Torna-se ainda mais especial porque foi o último modelo desenvolvido sob supervisão do seu fundador, o comendador Enzo Ferarri, que morreu pouco mais de um ano depois do lançamento, em 14 de agosto de 1988. Na época, custava US$ 1 milhão (mais de R$ 5,2 milhões pela cotação atual) e, passadas três décadas e meia, o céu não é o limite em se tratando de preço. Afinal, assim como os bons vinhos, quanto mais o tempo passa, mais rara e cobiçada torna-se a F40.
Ficha técnica
- Motor: V8 biturbo, 2.936,2 cilindradas, traseiro-central
- Potência: 478 cv a 7.000 rpm
- Torque: 58,8 kgfm a 4.000 rpm
- Câmbio: manual de 5 marchas
- Aceleração de 0 a 100 km/h: 4,1 s
- Velocidade máxima: 324 km/h
- Rodas e pneus: 245/40 ZR17 na dianteira e 335/35 ZR na traseira
- Dimensões: 4,36 m de comprimento, 1,97 m de largura, 1,12 m de altura e 2,45 m de entre-eixos
- Porta-malas: 70 litros
- Tanque: 120 litros
- Consumo: 5,4 km/l na cidade e 9,7 km/l na estrada
- Peso: 1.235 kg (tanques cheios, totalizando 120 litros de gasolina)