Fiat Pulse Abarth: o SUV evenenado de fábrica que tem desempenho esportivo e faz até 15 km/l
De tempos em tempos, surgem versões que são esportivas não apenas na aparência, mas na sua essência, recebendo preparação que vai muito além de meros adesivos ou rodas maiores. É o caso do Pulse Abarth, modelo envenenado de fábrica que faz bonito na pista e ainda entrega boas doses de civilidade nas ruas. Um digno representante da preparadora fundada em Bolonha no ano de 1949 pelo piloto Carlo Abarth. Depois de comprada pela Fiat, em 1971, tornou-se a divisão esportiva da montadora.
Repleto de logos do escorpião – símbolo da Abarth – espalhados pela carroceria, o modelo foi lançado em novembro de 2022. A apresentação à imprensa de todo o Brasil ocorreu em um dia chuvoso no Autódromo Internacional de Tarumã, em Viamão (RS). Mesmo com a pista escorregadia e andando forte nas curvas, logo de cara foi possível comprovar sua ótima estabilidade, bem como toda a força emanada pelo motor turbo.
Quatro meses depois dessa divertida experiência, chegou o aguardado momento de conhecê-lo mais a fundo, durante o tradicional teste de uma semana com o exemplar enviado pela montadora, em que é possível rodar pelas ruas e estradas a que estamos habituados, traçando comparativos com outros carros já avaliados.
Antes de prosseguir com o Pulse, uma pausa nostálgica: dirigindo o modelo, em muitos momentos lembrei de outros dois carros turbinados da Fiat que marcaram época: o Punto T-Jet (produzido de 2009 a 2015) e o Bravo T-Jet (fabricado de 2010 a 2016). O motor também era turbo de 4 cilindros, mas 1.4, e não 1.3 como o do Pulse, e rendia 152 cv e 21,1 kgfm de torque. No Bravo, havia um diferencial muito bacana: a tecla Overboost que, quando pressionada, aumentava o torque para 23 kgfm a 3.000 rpm, dando um fôlego extra nas acelerações. Dava para sentir a diferença, mas servia muito mais para se exibir aos amigos do que qualquer outra coisa.
O turbo do propulsor T-Jet, porém, só entrava em ação perto das 1.900 rpm. Antes disso, o comportamento era até apático em algumas circunstâncias. Mas depois dessa faixa, se transformava no “capeta”, garantindo fortes acelerações e retomadas.
O primeiro turbo da Fiat no mercado nacional, entretanto, foi lançado muito antes, em 1994: o Uno, com seu 1.4 que gerava 118 cv de potência e 17,5 kgfm de torque. O desempenho era bom para a época: 0 a 100 km/h em 9,2 s e velocidade máxima de 195 km/h.
Porém, o Pulse Abarth é ainda melhor que a dupla Punto/Bravo em diversos aspectos. E não se esperava nada de diferente, pois já se passaram 7 anos desde que saíram de linha. Vale ressaltar que eles eram hatches e, apesar do visual que para alguns possa lembrar um hatch, o Pulse é classificado pela Fiat como um SUV. Contudo, está mais para crossover.
Sob o capô, o Pulse Abarth traz um motor mais forte que o dos demais irmãos, o Turbo 270 1.3 de 4 cilindros, o mesmo usado na configuração topo de linha do Fiat Fastback e em versões do Jeep Renegade e Commander. São 180 cv com gasolina e 185 cv com álcool a 5.750 rpm. O torque de 27,5 kgfm está disponível bem cedo, a 1.750 rpm, com qualquer um dos combustíveis. Ou seja: não há turbolag, aquela letargia que ocorria antigamente antes de o turbo entrar em ação, bastando pisar pouco para o carro ganhar velocidade de forma satisfatória.
O ronco que sai do escapamento de ponteira dupla é grave e instiga o motorista a pisar cada vez mais. A aceleração de 0 a 100 km/h ocorre em 7,6 s com etanol e 8 s com gasolina, conforme dados da montadora.
O esportivo é muito mais rápido que a versão Audace, equipada com motor 1.0 Turbo que desenvolve 125 cv com gasolina e 130 cv com álcool a 5.750 rpm, bem como 20,4 kgfm de torque a 1.750 rpm com qualquer um dos combustíveis. A Audace cumpre a prova em 9,4 s com etanol e 9,7 s com gasolina.
As velocidades máximas da versão Abarth são igualmente muito superiores: 214 km/h com gasolina e 215 km/h com álcool. Na Audace, chegam a 187 km/h e a 189 km/h, respectivamente.
O Pulse Abarth pesa 1.281 kg. São apenas 47 kg a mais que a Audace Turbo 200 Flex. É exatamente a ótima relação peso-potência um dos segredos do desempenho esportivo: 6,9 kg/cv. Ou seja: cada cv precisa transportar apenas 6,9 kg.
Na hora de parar não há sustos, pois os freios foram redimensionados para a potência e desempenho do modelo.
Câmbio automático corresponde à altura
O câmbio automático tem 6 marchas e faz as trocas com eficiência e suavidade. Alguns certamente irão defender que faltava uma opção de transmissão manual, mas desenvolver um câmbio manual para suprir vendas que tradicionalmente correspondem de 1% a 3% do total neste patamar de preços seria um “tiro no pé” por parte da montadora. Contudo, quem costuma acordar com espírito de piloto de Fórmula 1 tem a opção de fazer as trocas por meio das borboletas localizadas atrás do volante.
A transmissão conta com três modos de direção: Normal (foco no conforto), Manual (traz versatilidade e personalidade) e Poison (esportivo).
É quando o motorista aperta o botão Poison que a mágica acontece: a direção elétrica fica mais firme e, as trocas do câmbio, mais rápidas. Nas freadas, ocorre a redução automática das marchas para auxiliar na desaceleração e para o sistema engatar a marcha mais adequada.
Além disso, os controles de tração e estabilidade tornam-se menos atuantes, permitindo ao condutor ousar um pouco mais. Já a vetorização dinâmica de torque distribui a força entre as rodas nas curvas.
Amortecedores 13% mais firmes
A preparação da Abarth também é muito perceptível na suspensão, composta por molas e amortecedores 13% mais firmes. Segundo a Fiat, a rolagem da carroceria é 10% menor em relação às demais versões.
Nas ruas, essa suspensão sofre um pouco em trechos esburacados, mas no asfalto de boa qualidade não chega a maltratar os ocupantes. Porém, aí vai um aviso: quem gosta de suspensão macia deve recorrer às demais versões do Pulse…
Rodas aro 17” e logos do escorpião
O visual conta com vários diferenciais em relação às demais versões do Pulse. A começar pelas rodas Racing aro 17” calçadas com pneus 215/50. A carroceria traz faixas e badges da marca do escorpião.
O para-choques é exclusivos e, atrás, chama atenção o escapamento duplo. Na frente, o carro vem com aplique com design em fibra de carbono.
Durante o teste, até 15 km/l na estrada
Com gasolina, o modelo promete 10 km/l na cidade e 12,3 km/l na estrada. Com álcool, faz 6,8 km/l na cidade e 8,8 km/l na estrada, conforme dados do Inmetro. Durante o teste, com gasolina, surpreendeu positivamente ao atingir 15 km/l na estrada. Mas isso sem pisar forte, dirigindo com “pé de anjo”. Já na cidade, fez os 10 km/l apontados.
Bancos exclusivos e painel configurável
No interior escurecido, os bancos exclusivos saltam aos olhos logo à primeira vista. Além de esportivos, seguram bem o corpo nas curvas. As pedaleiras cromadas concedem um toque extra de esportividade.
No cockpit, o símbolo do escorpião está presente em nada menos que 13 pontos. Porém, a parte superior do painel poderia trazer materiais agradáveis ao toque.
O cluster digital de 7″ é exclusivo da Abarth e traz informações como pressão do turbo, força G e potência na tela principal. A central multimídia de 10,1” é moderna e vem equipada com o Connect////Me, plataforma de serviços conectados que conta com mais de 30 funcionalidades.
Assistência à direção
De série, a versão Abarth vem com o Adas, pacote composto por sistemas avançados de assistência à direção que conta com as seguintes funcionalidades: comutação automática de faróis, alerta de mudança de faixa e frenagem automática de emergência.
Também tem freio de estacionamento eletrônico automático com Auto Hold (mantém o freio acionado após retirar o pé do pedal), air bags frontais e laterais de tórax e cabeça para motorista e passageiros, Wireless charger (carregador por indução) para smartphones, ar-condicionado automático digital, faróis e lanternas full LED, faróis com acendimento automático, sensor de chuva com acionamento automático dos limpadores de para-brisa e Keyless Entry’n Go.
Resumo da Resenha
A versão Abarth custa R$ 149,99 mil, R$ 21 mil a mais que a Impetus Turbo 200 Flex, configuração topo de linha dos demais modelos Pulse, que não são da divisão esportiva. Mas vale a pena esse investimento? Para quem gosta de acelerar forte e não está disposto a comprar um posto de combustíveis, sem dúvida vale cada centavo. Em um carro deste porte e preço, porém, faltou o teto solar.
Outro ponto positivo é que custa R$ 82,07 mil a menos que o Volkswagen Jetta GLi, mas tem desempenho semelhante. O Jetta é vendido por R$ 232,06 mil e traz um 2.0 turbo de 4 cilindros que gera 231 cv de potência e 35,7 kgfm de torque. Apesar de ser um sedã, a comparação é válida porque os dois têm alterações de fábrica com foco na esportividade, além de desempenhos bem parecidos na aceleração de 0 a 100 km/h: o Jetta cumpre a prova em 6,7 s, sobressaindo-se com folga, porém, na velocidade final, que é de 249 km/h.
De qualquer maneira, com os R$ 82,07 mil economizados pelo comprador do Pulse Abarth na comparação com o Jetta GLi dá para levar para casa outro carro zero-quilômetro, como o Fiat Argo 1.0, vendido por R$ 78,59 mil. E ainda sobram R$ 3,48 mil para o emplacamento!