Carro 100% elétrico brasileiro, Lecar Model 459 será montado no RS e já pode ser reservado por R$ 279 mil

Motor elétrico instalado no eixo traseiro desenvolve 162 cv (160 hp) de potência | Foto: Divulgação

Carro 100% elétrico desenvolvido e produzido no Brasil, o Lecar Model 459 já pode ser encomendado por R$ 279 mil e está previsto para ser entregue em dezembro. Equipado com tecnologias de assistência à condução e motor elétrico com 162 cv (160 hp) de potência instalado no eixo traseiro, o modelo promete uma autonomia de 400 km com uma única carga das baterias. A estimativa da Lecar S/A – Indústria Brasileira de Automóveis Elétricos é ousada: produzir 300 veículos por mês já no primeiro ano de fabricação, gerando 600 empregos diretos e R$ 1 bilhão de faturamento.

A empresa está negociando pavilhão com 12 mil metros quadrados de área construída e 100 mil metros quadrados de área total na antiga planta da Metalbus, em Caxias do Sul, para montar a sua linha de produção. Conforme a Lecar, na fase de projeto e homologação serão investidos R$ 80 milhões. Na segunda fase, serão aplicados mais R$ 600 milhões em obras civis, ferramental, moldes, montagem, integração, automação e robotização da linha de produção. Na terceira etapa, que consistirá na produção de 300 carros mês, a meta é investir R$ 400 milhões. No total, serão R$ 1,080 bilhão.

Em fevereiro, o protótipo em desenvolvimento será enviado a Londres, Inglaterra, para ser submetido a avaliações de impacto, aerodinâmica e simuladores de segurança. Essa etapa terá duração de até nove meses. Depois disso, o produto entrará em linha de produção, devendo estar disponível ao mercado a partir de dezembro de 2024.

O foco das vendas será a Grande São Paulo, especialmente entre a capital, Campinas e São José dos Campos, onde a empresa deve investir em uma rede de infraestrutura para recarregamento de bateria. Também está previsto, já para 2025, a criação de uma rede de carregamento próprio ao longo de toda a BR-101, com eletropontos rápidos disponíveis a cada 150 km da rodovia. Até 2030, a empresa espera oferecer cobertura total nas principais rodovias do País.

Em um segundo momento, além da expansão para todo o território nacional, a ideia é a internacionalização da montadora, especialmente para Estados Unidos, França, Itália e Mônaco. “Já estamos alinhando uma série de parcerias nesses países para levar nossa marca para o mundo”, orgulha-se o idealizador do projeto, o empresário Flávio Figueiredo Assis.

Montadora garante uma autonomia de 400 km com uma única carga das baterias | Foto: Divulgação

Em cinco anos, a Lecar estima produzir 50 mil carros por ano, com geração de 6 mil empregos diretos e R$ 13 bilhões de faturamento anual. A empresa pretende, ainda, criar um plano de assinaturas, mudando a cultura da posse para a de acesso. “As pessoas não precisam ter um carro, o que elas precisam é de mobilidade”, argumenta. A assinatura base para o plano de locação de 36 meses será oferecida por aproximadamente 3% do valor de venda para uma quilometragem mensal de 1 mil km.

O grande diferencial da Lecar promete ser é o de não apenas fabricar um carro elétrico no Brasil, mas desenvolver um produto totalmente pensado para o País. “Tenho um Tesla e, definitivamente, não foi estruturado para rodar pelas ruas e estradas brasileiras. Ele sofre a cada buraco. Nosso projeto é de um carro feito para os desafios das estradas do Brasil, com tecnologia de ponta, resistência, prazer na direção e alinhado à necessidade de redução de emissões, que foi o grande motivador para embarcarmos nesse projeto”, acrescenta.

Imagem disponível no site da empresa mostra volante no formato de manche e tela central digital de grandes dimensões | Foto: Divulgação

Assis elenca entraves como a carga tributária de 43%. “Precisamos que o governo se conscientize sobre a importância dos carros elétricos para o Brasil e crie uma política de incentivos a fim de termos preços mais competitivos”, destaca. A empresa também planeja a criação do Lecar POP, uma versão popular e com o uso de baterias e motores elétricos produzidos no Brasil que, com os mesmos incentivos fiscais aos elétricos existentes em diversos países, teria o custo estimado de R$ 100 mil e autonomia de 200 km por carga.

Elon Musk brasileiro? Empresário inspira-se no dono da Tesla

Metas ousadas: em cinco anos, Flávio Figueiredo Assis estima que a Lecar produzirá 50 mil carros por ano, gerando 6 mil empregos diretos e faturando R$ 13 bilhões | Foto: Divulgação

O empresário Flávio Figueiredo Assis, nascido na pequena cidade de Guaçuí, interior do Espírito Santo, quer fazer história ao lançar o primeiro carro elétrico originalmente brasileiro. Mais do que contribuir para a mudança da matriz energética, impactando positivamente o meio ambiente, sua missão é mudar a imagem do Brasil para o mundo. Sua inspiração é o bilionário norte-americano Elon Musk.

Formado em Direito e Contabilidade, Assis se mudou para a capital em busca de uma vida melhor. Fundou a Lecard, uma administradora de cartões PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador) que chegou a uma movimentação anual de R$ 1 bilhão, fornecendo para mais de 600 prefeituras e órgãos públicos e mais de 3 mil empresas privadas.

Em 2022, vendeu a Lecard com o intuito de acelerar um sonho ainda mais ambicioso: criar a primeira montadora de carros elétricos do Brasil. A ideia surgiu quando o advogado se deparou com a Lei 8.723, publicada em 1993, que regulamenta a redução de emissões de CO2 de veículos com prazo final em 2027, encerrando a utilização de motores a combustão em veículos automotores fabricados a partir de 2028.

Design do carro elétrico brasileiro lembra um pouco os modelos da norte-americana Tesla | Foto: Divulgação

De olho nessa oportunidade, em 2/2/2022, o empresário deu início à Lecar, com sede em Alphaville, São Paulo, e planta Industrial em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. A primeira iniciativa foi formar time de engenharia automobilística qualificado e experiente. Hoje, a equipe conta com 30 profissionais, muitos deles com passagens importantes por empresas como Gurgel, Troller, JPX, Ford, Toyota, Nissan e Marcopolo.

O capital é 100% próprio, mas a expectativa é realizar o IPO (oferta pública inicial) em 2025. “Além de um projeto que favorece a mobilidade e a sustentabilidade, nosso objetivo é fazer com que o Brasil seja visto de forma valorizada, assim como sempre deveríamos ser vistos. Somos a oitava economia do mundo e ainda não tínhamos nenhuma montadora nacional. Vamos mudar o rumo da história”, pontua.

Ao iniciar o projeto de design do carro, Assis logo identificou a cidade gaúcha de Caxias do Sul como o melhor local para montar sua fábrica, visto que vários fornecedores do ecossistema de mobilidade se encontram na região. Lá, a equipe desmontou um Tesla a fim entender a engenharia do concorrente a fundo.

Cerca de 35% das peças do Lecar Model 459, o primeiro veículo da companhia, serão importadas da China. Motores e baterias virão do fabricante chinês Wiston, que fornece também para outras duas gigantes do setor: Volkswagen e Hyundai. O restante será fabricado no Brasil. “Nosso País é privilegiado, com matéria-prima apropriada e abundante para a produção de carros 100% elétricos”, esclarece.

Sempre atento a oportunidades, os contratos fechados com vários fornecedores preveem a transferência de tecnologia e cooperação técnica, científica e operacional, o que viabiliza uma fábrica de células de bateria e motores elétricos no Brasil, permitindo a autossuficiência na produção de carros elétricos. “Temos, em nosso País, 97% dos minerais que compõem as células de baterias. Além de sermos autossuficientes, podemos ainda nos tornarmos protagonistas e uma grande referência no mercado global de veículos elétricos, fornecendo automóveis para outros países. Nossos carros vão interessar a quem cuida do meio ambiente também em outras nações”, anima-se o empresário.