Peugeot e-2008 GT é bonito, moderno e tecnológico, mas tem apenas 234 km de autonomia

Bonito, tecnológico e 100% elétrico. O Peugeot e-2008 GT amplia as opções neste crescente e desejado segmento. Modelo começou a ser vendido no Brasil em novembro de 2022 por R$ 259,9 mil, mas hoje pode ser adquirido pelo preço de R$ 219,99 mil, válido para a compra on-line no site da montadora. Confira a lista de equipamentos, o desempenho e a autonomia, aferida na prática neste eletrizante test-drive!

Design moderno mantém DNA da marca, sem ser excessivamente futurista | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

O design é o ponto forte do e-2008, pois é moderno, mas sem ser excessivamente futurista, mantendo as características marcantes da Peugeot. As rodas aro 18’’ são calçadas com pneus 215/55. Ao volante, o modelo não proporciona aquela arrancada de tirar o fôlego como muitos elétricos por aí, mas empolga mesmo assim. O motor instalado no eixo dianteiro desenvolve 100 kW, o equivalente a 136 cv de potência, e 26,5 kgfm de torque, tudo disponível instantaneamente, ao primeiro toque do pedal.

Belas lanternas traseiras e um porte se impõe no trânsito | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

São três modos de condução: Eco, Normal e Sport, que deixa as retomadas um pouco mais agressivas. Conforme a montadora, o carro acelera de 0 a 100 km/h em 9,9 s e atinge 150 km/h, número razoável, levando-se em conta os 1.630 kg do carro. A suspensão tem calibragem macia, voltada para o conforto. A estabilidade nas curvas é boa, mas em muitos momentos fica evidente que se está a bordo de um veículo mais pesado que o normal. Já a função B Mode – ou one pedal – faz a função de freios cada vez que o motorista tira o pé do acelerador, regenerando a bateria. 

i-Cockpit 3D

A bordo, muito espaço e bons materiais de acabamento, além da requintada iluminação ambiente | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Internamente, o carro traz materiais de primeira qualidade e bom nível tecnológico. Há 8 opções de cores de iluminação interna, conferindo requinte a bordo.

O i-Cockpit exibe as informações em 3D e é visualizado pelo motorista sobre o volante de pequenas dimensões, e não pelo centro do aro, como ocorre na maioria dos modelos. A central multimídia com tela de 10’’ tem manuseio intuitivo. Modelo traz o pacote Adas nível 2, que inclui Driver Assist Plus, contando com piloto automático inteligente, frenagem automática de emergência, assistência de farol alto, alerta de atenção e fadiga, reconhecimento de placas de velocidade, sistema ativo de ponto cego e alerta e correção de permanência em faixa. Modelo vem equipado com 6 air bags.

O espaço interno é bom inclusive para quem viaja atrás, graças ao entre-eixos de 2,60. Modelo tem 4,30 m de comprimento, 1,77 m de largura e 1,55 m de altura. No porta-malas, cabem 343 litros.

Tempos de recarga da bateria

Carregador que vem junto com o carro pode ser conectado a qualquer tomada | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

A bateria está posicionada no assoalho, contribuindo para o baixo centro gravitacional, e tem 8 anos de garantia, com limite de 160 mil km. Já o veículo conta com 3 anos de garantia ou 100 mil km.

Conforme a Peugeot, o modelo pode ter 80% da bateria carregada em apenas 30 minutos em uma estação ultrarrápida de 100 kW, tempo que aumenta para 53 minutos em uma estação de 50 kW e para 6h02min em uma estação de 7,4 kW e 22 kW. Já em uma tomada doméstica de 1,8 kW, são necessárias 24h56min.

Sem contar com uma wall box na garagem, a tomada comum foi o que me restou durante o test-drive de uma semana do e-2008. Junto com o carro, vem um carregador que fica guardado no porta-malas. Em uma das ocasiões, deixei-o 12 horas plugado, das 19h24 de uma segunda-feira até as 7h24 da manhã seguinte. A bateria estava em 27% e subiu para 76% e, a autonomia, de 54 km para 196 km. Nada mal, mas entre a teoria e a prática há uma verdadeira imensidão, como é possível acompanhar no relato a seguir.    

Baixa autonomia gerou atrasos na viagem

A baixa autonomia do e-2008, de 234 km pelos padrões do Inmetro, conforme número informado pela própria montadora, foi motivo de preocupação e gerou atrasos. Numa bela manhã de sábado, decidi subir a Serra Gaúcha, até Bento Gonçalves, distante 120 km. Como a bateria estava em 90% e a autonomia exibida era de 220 km, seria necessário recarregar no caminho. Já testei vários elétricos e todos eles mostraram que é possível confiar na autonomia exibida. Além do mais, como se trata de uma cidade turística, imaginei que certamente teria um carregador rápido por lá.

Confesso que as curvas da RS-122 instigaram a pisar mais forte, o que cobrou um alto preço, maior do que eu poderia supor. Concentrado no trajeto, não percebi o que estava acontecendo e, na chegada a Bento, a autonomia exibida havia caído bruscamente para apenas 50 km. Pesquisei pontos de recarga e fui até a concessionária Citroën local, mas o totem para elétricos ainda não havia entrado em operação. Resolvi pedir uma tomada comum emprestada enquanto gravava um vídeo com um Ford 1936 que é o carro-destaque do 30º Encontro Sul-Brasileiro de Veículos Antigos, realizado de 17 a 19 de novembro na cidade. Pouco adiantou: a carga da bateria não teve significativa reposição ao longo das 3 horas.

Recarga 1: concessionária Eiffel emprestou uma tomada no showroom | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Uma nova busca na Internet revelou que há um ponto de recarga no Vale dos Vinhedos. Só que, para surpresa total, não é do tipo rápido e demoraria pelo menos 8 horas para obter uma regeneração que permitisse chegar em casa. Sobre carregadores, a verdade nua e crua é que precisam ser do tipo rápidos ou ultrarrápidos, pois caso contrário o dono do carro terá que esperar longas horas ou passar a noite no local. É assustador constatar que muitas cidades turísticas ainda engatinham quando o assunto são os carregadores rápidos.

Recarga 2: uma parada num posto em São Sebastião do Caí para colocar “20 reais” | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Decidi, então, descer a Serra pois, como diz o ditado, para “baixo todo santo ajuda” e o consumo em tese é menor. E realmente foi. O objetivo era chegar em um posto de gasolina e colocar 20 reais. Isso mesmo: você não leu errado: em São Sebastião do Caí há um totem instalado num posto da Rede Sim, do qual inclusive participei da inauguração, já que foi instalado em parceria com a Zletric e Nissan. Depois de questionar o frentista, ele explicou que precisava religar o disjuntor, pois às vezes caía. Após fazer o cadastro no aplicativo e colocar créditos, enfim começou a recarga. Duas horas depois, já havia autonomia que permitiria andar cerca de 40 km, e decidi seguir viagem até Novo Hamburgo, às margens da BR-116, pois a concessionária Iesa BMW mantém um carregador rápido – e o que é melhor: de graça. Esse carregador vem salvando de apuros muitos motoristas que saem de outros Estados rumo à Serra Gaúcha. Bela e simpática estratégia de marketing.

Recarga 3: a última parada foi na concessionária Iesa BMW, em Novo Hamburgo | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Depois de cerca de meia hora, com o computador de bordo mostrando autonomia mostrando 50 km, iniciei os últimos 40 km até o lar, doce lar. Mas até esse último trecho foi cumprido com aquele frio na barriga: cheguei em casa com a bateria quase zerada. Novamente o que foi mostrado no painel não se confirmou na prática – e olha que desta vez utilizei a tática do “pé de anjo”, acelerando pouco para economizar bateria. Dessa forma, a viagem normal de retorno demoraria 1h30, mas levou quase 4 horas.

Cena de arrepiar: ao chegar em casa, bateria estava quase sem carga e autonomia exibida era zero | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Imediatamente pluguei o carro na tomada, na esperança de que no dia seguinte poderia usá-lo para ir à Expointer, em Esteio. Mas a autonomia obtida após 7 horas foi insuficiente. Em função disso, a viagem de ida e volta até a feira agropecuária gaúcha teve que ser feita, quem diria, em um carro a gasolina – algo bastante obsoleto diante da proposta dos elétricos, mas uma receita que funciona bem nos dias atuais.

Resumo da Resenha

O e-2008 é um ótimo carro, mas a baixa autonomia é seu calcanhar de aquiles. Mesmo que o dono tenha uma wall box para carregamento rápido na sua garagem, precisará planejar com eficiência cada trajeto em que a ida e a volta passe dos 200 km. Também vai ter que abdicar das “esticadas” de última hora que sempre surgem nos passeios, como a atração turística que só os moradores locais conhecem e que não estava no mapa. Ou será preciso parar em algum posto ou casa para pedir a tomada emprestada. Essa experiência fez sentir na pele um problema que venho apontando há muito tempo: a escassa infraestrutura para carregamentos de elétricos existente no Brasil. O cenário está mudando, mas a passos lentos.     

Por esses motivos, o e-2008 é um excelente segundo carro para a família. A exceção é aquele consumidor que nunca anda mais de 200 km por dia. Quando resolverem a questão da baixa autonomia deste e de outros elétricos, aí sim teremos o admirável mundo novo prometido.