Jeep Wrangler: força bruta e muita tecnologia para enfrentar os desafios das trilhas

Porte imponente e o visual quadradão impressionam ao vivo: são 1,88 m de largura por 1,87 m de altura | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

De tão utilizada no segmento automotivo, a palavra “robustez” virou lugar-comum. É usada pelas montadoras para adjetivar desde SUVs com razoável capacidade até carros compactos sem qualquer vocação para o off-road. Reservei o termo, porém, para definir um veículo que verdadeiramente sintetiza a força bruta e o espírito aventureiro: o Jeep Wrangler. Confira as Impressões ao Dirigir desse ícone mundial, vendido no Brasil por R$ 499,99 mil.

O novo Wrangler desembarcou no Brasil em 8 de agosto de 2024 juntamente com o irmão gêmeo versão picape, o Gladiator. Ambos chegaram já como linha 2025 na configuração mais nervosa: a Rubicon, chancelada pelo selo Trailrated, concedido apenas aos que se enquadram em uma rigorosa bateria de testes. Além da nova grade frontal de 7 fendas, ambos receberam novas rodas aro 17” calçadas com pneus 255/75 de uso misto.

Porta-malas comporta 548 litros e abriga subwoofer do sistema de som premium Alpine com 9 alto-falantes | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Logo de cara, o porte imponente e o visual quadradão impressionam ao vivo. O Wrangler parece um bloco de aço 2×2 m: são 1,88 m de largura por 1,87 m de altura. Já o comprimento totaliza 4,78 m e, o entre-eixos, 3 m. O design é uma homenagem aos tempos em que se projetavam carros com régua e esquadro, mas detalhes como os faróis Full LED e as lanternas em LED deixam claro que se trata de um veículo moderno. As dobradiças no lado externo das portas, a corda interna que delimita a sua abertura máxima e o sistema de abertura do capô são componentes remanescentes de um passado forjado na lama. Os tapetes em borracha e o interior lavável – dotado de sistema de escoamento de água – são a prova disso. Na lateral das portas, redes cumprem a função de porta-objetos.

Números de fazer inveja: altura em relação ao solo de 27 cm e ângulo de ataque de 43,9° | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

No cockpit renovado, uma mescla de instrumentos analógicos com um painel de instrumentos digital de 7” e o sistema multimídia Uconnect 5 de 12,3” de quinta geração – com Apple Carplay e Android Auto Wireless – dão o tom desta nova geração. Quase tudo no Wrangler é diferente dos demais irmãos, a exemplo dos comandos dos vídeos elétricos concentrados no painel central, passando despercebido para os desavisados. Ao lado da manopla do câmbio automático de 8 marchas está a alavanca para selecionar os modos de tração reduzidos. Há 7 entradas USB e diversas tomadas de 12 volts espalhadas pela cabine. Entre os requintes disponíveis, também há ar-condicionado dualzone, sistema de som premium Alpine com 9 alto-falantes e subwoofer. 

Motor Hurricane 2.0 de 4 cilindros

São 272 cv de potência a 5.250 rpm e 40,8 kgfm de torque a 3.000 rpm | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Ao volante, o Wrangler impressiona pela agilidade e maciez da direção eletrohidráulica. O motor Hurricane 2.0 de 4 cilindros com turbo e injeção direta funciona somente com gasolina, desenvolvendo 272 cv de potência a 5.250 rpm e 40,8 kgfm de torque a 3.000 rpm. É o mesmo utilizado nos irmãos Compass e Commander Blackhawk, bem como Ram Rampage R/T. Apesar dos seus 2.172 kg, a aceleração agrada. Segundo a Jeep, o carro faz de 0 a 100 km/h em apenas 9 s, mais rápido que muito carro por aí que se diz esportivo. A velocidade máxima de 156 km/h só não é maior porque a aerodinâmica equivalente à de uma pedra de granito não ajuda muito. Durante o teste, um Jeep Renegade tentou meter pressão na estrada, mas bastou uma pisada mais forte para transmitir a mensagem de que é preciso respeitar o irmão mais velho e forte. O motor Hurricane dá conta do recado, mas o V6 3.6 aspirado (284 cv de potência e 35,4 kgfm de torque) usado anteriormente também tinha o seu valor, trabalhando sempre com muita folga. Esse propulsor, aliás, ainda é usado no Jeep Gladiator.

Ao lado da manopla do câmbio automático de 8 marchas está a alavanca para selecionar os modos de tração reduzidos | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Logo no primeiro contato, a impressão que se tem é de estar dirigindo um quitinete com rodas. Mas rapidamente a gente se acostuma com o tamanho avantajado desta barca. Tamanho esse que impõe respeito no trânsito: a maioria dos motoristas abre passagem. Bancos do motorista e passageiro têm regulagens elétricas e a suspensão é uma agradável surpresa, cumprindo com maestria o seu papel na terra e ainda entregando uma boa dose de conforto na estrada. Apesar da boa estabilidade, nas curvas mais fechadas convém aliviar a pressão no pedal do acelerador, pois mesmo com os controles eletrônicos em ação, há uma tendência de sair de frente.

Números comprovam a capacidade off-road

Seção dianteira do teto pode ser removida em duas partes | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Devido às inúmeras possibilidades de configuração de tração e modos de direção, não tem tempo ruim para o Wrangler: areia, buracos e lama são sinônimo de estrada boa. Os números são de fazer inveja: ótima altura em relação ao solo (27 cm), boa capacidade de imersão (76 cm a 8 km/h), ângulos de ataque (43,9°), de saída (37°) e de rampa (22,6°). Já o porta-malas comporta 548 litros.  

Acabamento rústico em plástico branco e alavancas para retirar as seções do teto de forma rápida e descomplicada | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

O pacote off road é composto pela tração 4×4 Rock-Track com relação reduzida 4:1; eixos Dana 44; bloqueio eletrônico dos diferenciais Tru-Lok; barra estabilizadora dianteira com desconexão eletrônica; placas e trilhos de aço sob o assoalho para proteção de cárter, transmissão e tanque de combustível; dois ganchos para reboque frontais e um gancho para reboque traseiro; câmera Frontal Off-Road (TrailCam) e Hill Descent Control (HDC). Já as Off-Road Pages permitem acesso em tempo real aos dados de desempenho off-road: inclinação lateral e vertical e coordenadas, entre outros detalhes.   

O Wrangler merecia uma trilha hardcore mas, infelizmente pela falta de tempo, foi possível apenas um passeio por estradas de chão até o morro do voo-livre em Igrejinha, cidade da Oktoberfest distante 30 km de Gramado. A estrada íngreme, que desafia os outros carros, é brincadeira de criança para esse Jeep. No topo do Morro Alto da Pedra, localizado a 720 m acima do nível do mar, aproveitei para rebater o para-brisa e tirar a parte dianteira do teto, que sai em duas partes, de forma rápida e prática. Teto traseiro e as portas também podem ser retirados, mas o processo é mais demorado e exige ferramentas que vêm junto com o carro. É o que a Jeep chama de “Open-Air Experience”, perfeita para aventuras em meio à natureza.   

Tecnologias semi-autônomas  

Interior mescla modernos painéis digitais com comandos de visual rústico | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Não apenas bruto, mas também tecnológico: o modelo vem equipado com Controle de cruzeiro adaptativo (ACC), Aviso de colisão frontal com frenagem de emergência (AEB), Comutação automática dos faróis e Monitoramento de pontos cegos.

Também traz Monitoramento da pressão dos pneus, air bags frontais e laterais, Controle de estabilidade (ESC), Sistema Eletrônico Anticapotagem (ERM), Hill Start Assist (HSA) e sensor de estacionamento traseiro.

Resumo da Resenha

A íngreme subida do morro do voo-livre de Igrejinha (RS) é brincadeira de criança para o Wrangler | Foto: Adair Santos/Carros e Carangas

Dirigir o Wrangler é uma das sensações mais próximas que se pode chegar de guiar um pequeno tanque de guerra. Bom na cidade – exceto na hora de estacionar nas apertadas vagas de shopping – e perfeito para encarar o off-road. O consumo, porém, é o seu calcanhar de aquiles: a montadora promete 7,2 km/l na cidade e 7,3 km/l na estrada, mas na prática o que se verificou foram 8 km/l na estrada e 5 km/l na cidade. Nas trilhas, a tendência é que fique abaixo disso, não há milagre. É pouco quando avaliamos o trabalho de downsizing realizado no powertrain, mas adequado quando se leva em conta peso e aerodinâmica do veículo. Em função disso, apesar dos 104 litros de capacidade do tanque, aos 494,1 km acendeu a luz da reserva. Mas nem isso tira o brilho desse autêntico aventureiro raiz, que honra o adjetivo “robustez”.

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