Gigante americana: Ford F-150 tem muita tecnologia, porte de caminhão e motor V8 de Mustang; confira o teste

Dirigir a Ford F-150 é uma das maneiras de sentir um gostinho dos Estados Unidos – nem que seja apenas por algumas horas, enquanto estiver a bordo desta sala de estar ambulante.  Poucos veículos representam tão bem o estilo american way of life quanto esta campeã de vendas, que recentemente passou por um leve facelift para manter-se atualizada. Confira desempenho, consumo e equipamentos nas Impressões ao Dirigir.

Historicamente, os brasileiros tinham que se contentar apenas em olhar a F-150 pela TV e cinema ou contemplar algumas poucas unidades que chegavam por meio de importadores independentes. Mas isso começou a mudar há dois anos: em fevereiro de 2023, a sua 14ª geração passou a ser oficialmente vendida pela montadora. Em agosto de 2024, foi apresentada a linha 2025, com nova grade, faróis e rodas, bem como inédito sistema de abertura da caçamba. São mudanças discretas, mas que ajudam a modernizar este best-seller.

Ao vivo, a picape é ainda maior do que se imagina: são 5,91 m de comprimento, 3,69 m de entre-eixos e 1,96 m de altura. A largura totaliza 2,09 metros, medida que com os espelhos aumenta para 2,43 m. A título de comparação, a F-150 é 54 cm mais comprida que a Ranger, com seus 5,37 m, 8 cm mais alta e 22 cm mais larga. A minha garagem, que tem 6,5 m de comprimento, ficou pequena para abrigar esta gigante. Caber, coube, mas sobrou pouco espaço para passar e até para fechar o portão.

Este exemplar enviado pela montadora para o tradicional teste de uma semana é da versão topo de linha Lariat, cheia de cromados, o que cria um belo contraste com a cor azul marinho da carroceria. Essa configuração custa os mesmos R$ 545 mil que a Lariat Black que, como o nome sugere, traz detalhes escurecidos. As rodas em liga-leve aro 20” são igualmente cromadas e calçadas com pneus 275/60 All Terrain.   

Por dentro, a F-150 oferece espaço de dar inveja a muito quitinete. Este é um dos motivos que a tornam uma das preferidas pelos norte-americanos, cada vez mais “corpulentos”. A largura impressiona bastante. O Ford Landau provavelmente foi o mais próximo que já chegamos disso. O console central é igualmente largo e abriga um generoso porta-objetos. Quando o apoio-braços é estendido, transforma-se em uma mesa de trabalho, perfeita para acomodar um notebook ou plantas arquitetônicas – nos Estados Unidos, a F-150 é bastante usada para o “batente”. Antes, porém, é preciso apertar um botão que recolhe a manopla do câmbio. Uma tomada de 110 volts próximo do multimídia ajuda a reforçar essa função de escritório.

Atrás, o espaço é igualmente gigantesco, inclusive para três pessoas. Debaixo dos bancos traseiros há dois porta-objetos. Os bancos dianteiros contam com ventilação e aquecimento, enquanto os assentos traseiros têm apenas aquecimento.

Acabamentos luxuosos

Os materiais de acabamento são de primeira qualidade. A iluminação interna é um show à parte, reforçada pelo teto solar elétrico de grandes dimensões. O painel de instrumentos digital e configurável de 12″ é bastante intuitivo de usar. O multimídia – também de 12” – é equipado com Sync 4 reforçam o apelo tecnológico. O sistema de som da marca Bang & Olufsen é composto por 14 alto-falantes.

E essa picape é bruta, mas tecnológica: traz piloto automático adaptativo (ACC) com Stop & Go, assistente autônomo de frenagem e detecção de pedestres, assistente de manutenção e centralização na faixa, assistente de descida, sistema de monitoramento de ponto cego com cobertura de reboque, câmera traseira com detecção de objetos e assistentes de manobras evasivas e cruzamentos, bem como 8 air bags. Outra novidade é o Head up Display, que exibe a velocidade e outras informações no para-brisa. 

Suspensão confortável

A suspensão dianteira é independente e a traseira conta com eixo rígido e feixe de molas, entregando boas doses de conforto e de estabilidade. Mas como toda picape montada sobre chassi, a F-150 tem um pouco daquele balanço característico quando se passa em desníveis no asfalto. Apesar da segurança extra proporcionada pelos controles eletrônicos, o motorista precisa ter sempre em mente que está dirigindo um veículo alto, comprido e pesado.

Caçamba com acionamento elétrico

Na caçamba, que conta com tomada 110 volts, podem ser levados 1.495 litros. A capacidade de carga é de 834 kg. Já a capacidade máxima de reboque é de 3.492 kg. A picape traz um assistente de reboque, que armazena informações e realiza ajustes para tornar as manobras mais seguras, assim como o sistema de câmeras 360 graus.

V8 do Mustang, mas com a cavalaria domada

O motor V8 5.0 Coyote é o mesmo do Mustang, mas rende 405 cv a 6.000 rpm, 83 cv a menos que os 488  cv do Mustang 2025. O torque é levemente inferior 56,7 kgfm (contra 57,55 kgfm do Mustang) e está disponível a 4.250 rpm.

Essa domada na cavalaria foi feita porque as propostas de uso do Mustang e da F-150 são obviamente muito distintas e, na picape, foi privilegiada a melhor relação entre o peso e a potência. De qualquer maneira, bem que esse motor merecia um acabamento visual mais agradável.

É tanta força que a 80 km/h este V8 gira a apenas 1.200 rpm e a transmissão está na 8ª marcha. Ou seja: sobraram mais duas marchas para usar em velocidades mais elevadas, a 9ª e a 10ª. Há opção de trocas manuais na manopla e 8 modos de condução. A tração 4×4 conta com reduzida.

Como o motor é o mesmo do Mustang, quando se acelera forte, o ronco lembra bastante o do esportivo. É claro que não tem aquela mesma aceleração de tirar o fôlego do Mustang, mas a F-150 é muito ágil para uma picape que pesa 2.387 kg, graças à carroceria feita em alumínio: a aceleração de 0 a 100 km/h leva apenas 7,1 s, número melhor do que muito carro esporte por aí. Já a velocidade máxima é limitada eletronicamente a 180 km/h.

A título de comparação, o Mustang, com seus 1.836 kg, acelera de 0 a 100 km/h em 4,3 s e atinge 250 km/h, também eletronicamente limitada. Interessante é que o Mustang GT Performance 2025 custa R$ 549 mil, apenas R$ 5 mil a mais que a F-150. Logicamente que são duas propostas totalmente distintas, mas é tentadora a possibilidade de levar um esportivo desses para a garagem. Entretanto, quem é realmente fã de picapes não enxerga nada além de picapes na sua frente. Impressionante mesmo como a F-150 se impõe no trânsito. Até aqueles motoristas que ficam trancando a pista da esquerda costumam dar lado.

Apetite voraz por gasolina

A Ford promete 6,3 km/l na cidade e 8,6 km/l na estrada. Durante o teste, andando a 80 km/h e pé de anjo, esta gigante chegou a fazer 8,1 km/l na estrada, próximo dos 8,6 km/l apontados pelo Inmetro. Na cidade, não passou dos 5 km/l, abaixo dos 6,3 km/l oficiais. Se pisar forte, aí despenca para 4 km/l.

Ao longo dos 643,6 km do teste, a média geral foi de 6,3 km/l, rodados metade na estrada e metade na cidade. O tanque comporta nada menos que 136 litros de gasolina. Na teoria, seria possível percorrer 1.100 km em rodovias, mas aos 640 km a luz da reserva acendeu devido ao trajeto misto realizado. 

Pelos valores atuais do litro da gasolina, são necessários 880 reais para encher o tanque. Mas na terra do Tio Sam, onde a gasolina é mais barata e o poder aquisitivo é maior, abastecer pesa muito menos no bolso. Essa versão Lariat, aliás, nos EUA custa US$ 73,9 mil, mas a de entrada XL sai por bem menos, US$ 37 mil.

Resumo da Resenha

Estilosa, potente e tecnológica, a F-150 desfruta de uma indiscutível qualidade. O melhor de tudo é que não precisa ter carteira C para dirigi-la, bastando a carteira B, pois no Brasil só é considerado um caminhão o veículo que tiver mais de 3,5 toneladas de Peso Bruto Total (PBT). Outro detalhe não refere-se à F-150 propriamente dita e sim à infraestrutura do Brasil: a maioria das vagas de estacionamento não está preparada para esta grandalhona, principalmente as de shoppings.