Ford Ranger Raptor: bruta e rápida, muito rápida! Confira o teste desta picape irada!
Atoleiros, barrancos, dunas… Com uma suspensão projetada para aguentar o tranco e proporcionar fortes emoções, a Ranger Raptor parece não ter limites. No lugar do feixe de molas traseiro, há amortecedores Fox de longo curso. Sob o capô, o V6 3.0 GTDI biturbo a gasolina de 397 cv que garante um desempenho superior ao de muitos sedãs esportivos: aceleração de 0 a 100 km/h em 5,8 s e velocidade máxima limitada a 183 km/h.
A Ranger Raptor foi lançada em 2018 e, ao Brasil, chegou em fevereiro de 2024 por R$ 448,6 mil. Dois meses depois, ganhou equipamentos e seu preço subiu para R$ 466,5 mil. Ao contrário das demais versões, montadas na Argentina, a Raptor é fabricada na Tailândia. A unidade enviada pela montadora para o tradicional teste de uma semana é na cor preto Astúria, o que reforça a a cara de mau. A maior altura em relação às demais configurações, os pneus lameiros e o “peito de aço’’ – com dois ganchos embutidos – sob o para-choque dianteiro – dão a dica: esta não é uma Ranger “normal’’. As rodas pretas em liga-leve são no tamanho 17’’, mas como os pneus 285/70 R17AT Continental Grabber têm perfil alto, o diâmetro total é de 33”. Na grade frontal, o nome Ford destacado em letras gigantes. Nas laterais da caçamba, adesivos confirmam as suspeitas dos incautos: trata-se da Ranger mais venenosa.
Para entrar na cabine, é necessário recorrer aos estribos laterais. Ao abrir a porta, de cara impressionam os robustos bancos dianteiros em couro, inspirados em caças de combate e com detalhes em laranja. Na base superior do volante, há um marcador também na cor laranja. Nos assentos, laterais de portas e painel central, há insertos de couro suede.
Com a chave presencial no bolso, pressiona-se o botão start-stop próximo do volante e o que se houve a seguir é um som grave e imponente emanado pelo V6 biturbo. Som que aumenta ainda mais a cada vez que os giros do motor passam dos 4.000 rpm. O mais legal de tudo é que, assim como no Mustang, o sistema ativo de controle eletrônico de som do escapamento permite a configuração. Na Raptor, são 4 modos: Silencioso, com ruído baixo, “bom vizinho”; Normal, com nível padrão; Esporte, com ruído mais intenso em altas rotações, e Baja, com ruído intenso e agressivo para uso somente em competição. Mesmo no modo normal, o som do V6 instiga a acelerar mais e mais. Em velocidades de cruzeiro, entretanto, fica bem discreto, sem causar incômodos em viagens mais longas.
Com o câmbio automático tradicional de 10 marchas posicionado em D, basta pisar um pouco mais forte para a Raptor sair cantando pneu. Essa transmissão tem calibragem exclusiva, voltada para a performance, e aproveita bem os regimes de funcionamento do motor, oferecendo 7 modos de condução: Normal, Escorregadio, Lama/Terra, Areia, Esportivo, Rock Crawl e Baja. Cada modo traz ajustes específicos do motor, transmissão, freios, ABS, tração, direção, suspensão e escapamento, alterando também o grafismo do painel de instrumentos.
Atrás do volante, paddle shifts (borboletas) de grandes dimensões facilitam as trocas manuais, caso o motorista queira domar a fera no braço. Com o pé no fundo, as acelerações e retomadas são vigorosas. Os 397 cv chegam a 5.650 rpm, mas o torque máximo de 59,45 kgfm já está disponível bem antes, em 3.500 rpm.
Consumo voraz
O ótimo desempenho da Raptor traz, como efeito colateral, um apetite voraz por gasolina. O consumo prometido é de 8,3 km/l na cidade e 10,2 km/l na estrada, o que em tese garante boa autonomia nas trilhas com o tanque de combustível de 82 litros. Na prática, porém, não importa o que se faça, a Raptor dificilmente faz mais do que 5 km/l na cidade e 7,5 km/l na estrada. Com isso, aos 380 km, a luz da reserva acendeu, fazendo sentir saudades dos cerca de 15 km/l na estrada proporcionados pela Ranger V6 turbodiesel que, com seus 250 cv e 61,22 kgfm de torque, acelera de 0 a 100 km/h em 9,2 s e atinge 187 km/h, limitados eletronicamente. Mas é claro que a proposta da Raptor é outra, exigindo as respostas rápidas que só um motor a gasolina pode dar. Quando se analisa todo este contexto, 7,5 km/l estão de bom tamanho. Azar do consumo!
Preparada de fábrica para saltos
Apesar de alta, a picape transmite segurança nas curvas, pois sua suspensão tem ótima calibragem. São 85 cm de capacidade de imersão, muito úteis ao atravessar riachos no off-road ou alagamentos urbanos, cada vez mais comuns nos dias atuais. No pior desastre natural já enfrentado pelo Rio Grande do Sul, no início deste mês de maio, a Raptor conseguiu rodar com tranquilidade por pontos críticos da capital gaúcha, como a sempre conturbada Avenida A. J. Renner, que liga a BR-448 à Avenida Farrapos. Mas isso só bem no início, em 30 de abril, pois nas semanas seguintes, só de barco…
Os amortecedores de competição Fox Live Valve Shocks 2.5 merecem um capítulo à parte, pois têm funcionamento ativo que se adapta às condições do terreno, usam um acelerômetro e sensores para medir as variáveis 500 vezes por segundo, ajustando individualmente o amortecimento de cada pistão, por meio de câmaras de compensação com controle eletrônico. Além disso, têm modos de ajuste automático para salto (Jump Mode), enchendo e enrijecendo os pistões para absorver o impacto, e para máxima aceleração (Pedal Down), quando enrijece os pistões para dar mais estabilidade. Eles também podem ser ajustados pelo motorista, nos modos Normal e Sport para estrada e no modo Baja para fora de estrada.
Pacote completo de equipamentos
A Raptor traz um pacote completo de fábrica: painel digital de 12,4”, navegador off-road, iluminação 360°, multimídia Sync 4 com tela de 12,4” e som da B&O.
Suas tecnologias avançadas incluem os exclusivos faróis LED Matrix, com foco variável e direcional, e um arsenal completo de segurança e assistência ao motorista. Vem com: controle de cruzeiro adaptativo com stop & go, frenagem autônoma com detecção de pedestres e ciclistas, assistentes de cruzamentos, de frenagem autônoma em marcha à ré, de manobras evasivas, de permanência e centralização em faixa, de estacionamento automático e frenagem pós-colisão.
Dispõe, ainda, de monitoramento de ponto cego com alerta de tráfego cruzado, reconhecimento de sinais de trânsito, farol alto automático, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro e sete air bags. Em abril, para justificar o aumento de R$ 17,9 mil no preço, a picape ganhou preparação para reboque de série e alerta de ocupantes traseiros.
Dimensões
A Raptor é levemente maior que a nova Ranger: tem 1 cm a mais no comprimento (5,36 m), 19,3 cm na largura (2,21 cm, incluindo os retrovisores), 4 cm extras na altura (1,93 m) e 9 cm na bitola (1,71 m), com a mesma distância entre-eixos de 3,27 m. A Raptor pesa 2.415 kg, 58 kg a mais que os 2.357 kg da Ranger V6 turbodiesel.
Capacidades off-road
Desenvolvida pela Ford Performance, divisão de esportivos de alto desempenho da marca, a versão tem chassi exclusivo e boas capacidades off-road: ângulo de entrada de 32°, ângulo de saída de 27°, ângulo de transposição de rampa de 24° e vão livre do solo de 27,2 cm. Possui também capacidade de aclive máximo de 45° e inclinação máxima lateral de 35°.
Além disso, traz piloto automático off-road, que é bastante útil até para os aventureiros mais experientes porque permite o controle preciso da tração nas subidas e descidas em terrenos irregulares, em velocidades de até 32 km/h. Ao clique de um botão, imagens de uma câmera frontal são exibidas na tela multimídia, facilitando o desvio de pedras ou troncos. Além do peito de aço frontal, conta com protetores feitos com chapas de aço de 2,3 mm em áreas vitais, como direção, cárter, transmissão e tanque de combustível.
Resumo da Resenha
Apesar do preço salgado, a Raptor é única em sua categoria, trazendo uma competente preparação off-road de fábrica e recompensando seu proprietário com altas doses de diversão. Melhor ainda se ele for dono de posto de gasolina!