Fiat 500e: o ícone renovado e eletrificado. Confira equipamentos, desempenho e autonomia
Um ícone mundial do automóvel na versão 100% elétrica. O Fiat 500e transpira charme e, o melhor de tudo, não polui o meio ambiente. Confira o desempenho e autonomia deste carismático modelo no uso diário. Será que ele faz os 227 km prometidos de acordo com o padrão Inmetro? Confira as impressões ao dirigir.
A primeira geração do Cinquecento surgiu na Europa do pós-guerra, em 1957, e a sua releitura foi apresentada em 2009. A terceira geração, totalmente elétrica e fabricada na Itália, desembarcou no Brasil em agosto de 2021. No mercado nacional, é comercializado na versão única Icon por R$ 214,99 mil. Desenvolvido sobre a nova plataforma Mini EV, cresceu em tamanho: são 3,63 m de comprimento, 2,32 m de entre-eixos, 1,68 m de largura e 1,53 m de altura.
Para efeitos de comparação, o primeiro 500 era muito mais compacto, com 2,97 m de comprimento, 1,84 m de entre-eixos, 1,32 m de altura e 1,32 m de altura. Depois de pegar uma chuva pesada, eu próprio lavei o carro para fazer as fotos desta matéria e também os vídeos para o canal Carros e Carangas. Foi, sem dúvida alguma, a limpeza mais rápida e que exigiu menos esforço em toda a minha vida, pois as dimensões reduzidas do carro facilitam o trabalho. Defendo até que as lavagens deveriam dar um desconto para este modelo.
Mas voltando ao carro, entendo a proposta de ser um ‘‘city car’’, porém é fato que o espaço no banco traseiro continua bastante limitado: apenas duas crianças podem viajar com o mínimo de conforto. No porta-malas, cabem apenas 185 litros de bagagens, mas os bancos traseiros podem ser rebatidos e o espaço aumenta bastante, para 550 litros. Obviamente que passa longe de uma Fiorino nesse aspecto, mas ninguém realmente espera isso.
O design do 500 segue cativando olhares, tanto de adultos quanto de crianças. A unidade enviada pela montadora para testes é na cor branco Ghiaccio. Os faróis redondos Full LED destacam-se pelas luzes diurnas de rodagem (DRL) no capô, lembrando “sobrancelhas”. Em função do formato da grade frontal inferior, o carro parece estar esboçando um sorriso. Na traseira, as lanternas são em LED e um novo spoiler melhora a eficiência aerodinâmica. As rodas em liga-leve raiadas aro 16’’ são calçadas com pneus 195/55.
O interior foi totalmente redesenhado e traz soluções que fogem do lugar-comum utilizado na indústria automotiva em geral. À primeira vista, chama atenção a tela de 10,25” no formato wide do sistema multimídia e o cluster digital TFT de 7”, que exibe informações sobre carga da bateria, consumo e autonomia. O multimídia gerencia o Apple CarPlay e o Android Auto sem fio, podendo ser atualizado via Internet.
O sistema tem comandos de voz avançados, que possibilitam “conversar” com o carro para controlar suas configurações, programar o ar-condicionado e escolher músicas. O WiFi Hotspot embarcado no veículo possibilita conectar até 8 dispositivos ao mesmo tempo. Além disso, a plataforma de serviços oferecida pela Fiat pelo smartphone ou smartwatch e Assistente Virtual (Alexa) permite controlar o veículo com recursos como verificação do nível de carga, agendar o funcionamento do ar-condicionado e o carregamento do veículo.
Abaixo do multimídia estão um nicho para o celular e as teclas para acionar a transmissão: P, R, N e D. O novo console central oferece armazenamento de 5,7 litros, um porta-copos atrás e um porta-copos adicional retrátil na frente, juntamente com um novo apoio de braço.
Pura diversão
Ao volante, o modelo é gostoso e divertido de dirigir, característica herdada das gerações anteriores. A tração é dianteira e o motor elétrico entrega 87 kW, o que equivale a 118 cv de potência a 4.200 rpm. O torque de 22,44 kgfm, porém, já está disponível instantaneamente, o que gera acelerações empolgantes. Segundo a Fiat, o carro vai de 0 a 100 km/h em 9 s, bom número, levando-se em conta os seus 1.690 kg. Já a retomada de 60 km/h a 100 km/h demora 4,8 s. O que não empolga muito é a velocidade máxima, limitada em 150 km/h, o que, no entanto, está na média da maioria dos elétricos. Nas curvas, apesar do entre-eixos curto, o carro tem boa estabilidade, graças não apenas aos controles eletrônicos, mas também à instalação das baterias de íons de lítio no assoalho, o que melhora a distribuição de peso entre os eixos e baixa o centro de gravidade do veículo.
Como o carro elétrico é muito silencioso, o 500e vem equipado com o Sistema de Alerta Acústico de Veículos (Avas), aviso acústico para pedestres e ciclistas em velocidades de até 20 km/h. A partir de 25 km/h, o som escolhido é a belíssima canção Amarcord, de Nino Rota.
Três modos de direção
São três modos de condução disponíveis: Normal, Range e Sherpa, que podem ser selecionados no console central:
- Normal: oferece um estilo de direção mais próximo à experiência tradicional, com toda a potência e torque do sistema de tração disponíveis. O carro desacelera com efeito de freio motor, como em um veículo convencional, carregando parcialmente a bateria. Esse modo apresenta a função “Creeping”, no qual o veículo inicia seu movimento ao liberar o pedal do freio;
- Range: ativa a função “One Pedal Driving”. Melhora a recuperação da energia, a desaceleração aumenta e o freio é usado apenas para emergências ou para parar completamente o carro. Na prática, o veículo é conduzido basicamente com um único pedal, o do acelerador. Ao selecionar este modo de condução, o motorista maximiza a frenagem regenerativa e também o alcance. Este foi o modo que mais usei durante o teste. No início parece que o carro está preso a uma âncora, porque a frenagem ocorre automaticamente cada vez que se tira o pé do pedal direito e parece que algo o está puxando para trás. Mas é fato que logo a gente se acostuma e os freios quase não são usados.
- Sherpa: é como se fosse um modo de emergência, pois ajusta vários parâmetros de condução, como velocidade máxima (limitada a 80 km/h), resposta do acelerador (reduzir o consumo de energia) e desativação do ar-condicionado e sistemas auxiliares de aquecimento (vidros e retrovisor) para reduzir ao mínimo o consumo e, assim, garantir que seja alcançado o destino definido no sistema de navegação ou na estação de carregamento mais próxima.
Sistemas de assistência à condução
O 500e conta com o Co-Driver, formado pelo Sistema Avançado de Condução Assistida (Adas) de última geração, atingindo classificação nível 2 na escala SAE. Uma câmera atrás do espelho retrovisor interno trabalha em conjunto com outra câmera frontal, escondida no logotipo do modelo, para garantir o controle longitudinal e lateral do veículo em todas as velocidades. A combinação com a navegação ajuda o sistema a definir o nível certo de intervenção de acelerador, freio e direção, adaptando-se a condições de rodagem na cidade ou rodovia. O sistema atua para garantir o controle longitudinal e lateral do veículo por meio dos seguintes sistemas:
- Controle de Cruzeiro Adaptativo (ACC): assim que a velocidade de cruzeiro e a distância do veículo à frente forem definidas, o sistema manterá automaticamente esses parâmetros e, se necessário, pode parar completamente o carro caso o veículo da frente também pare;
- Lane Centering: reconhece os sinais de trânsito além das faixas de marcação na pista ao ativar o dispositivo, mantendo o carro no centro da faixa de rodagem e tornando a direção mais segura. Para isso, no entanto, é necessário que as marcações na pista estejam bem pintadas, o que nem sempre é uma realidade no Brasil;
- Assistente de Frenagem Autônoma com Detecção de Pedestre;
- Detector de Placas de Limite de Velocidade;
- Detector de Fadiga;
- Monitoramento de Ponto Cego;
- Sensores de Estacionamento 360°;
- Assistente de Estacionamento (Park Assist).
Há ainda seis air bags, câmera traseira de alta resolução, comutador de luz alta, sensor de chuva e monitoramento de pressão dos pneus.
Arquitetura Mini BEV
Mais de 90% dos componentes do 500e, incluindo a plataforma Mini BEV, são exclusivos. Com poucos componentes modulares, a arquitetura recebeu o sistema de bateria de íons de lítio de alta capacidade de armazenamento (42 kWh). O modelo também traz nova coluna de direção com regulagem axial, freio de estacionamento elétrico e novo eixo traseiro.
Autonomia de 227 km
A autonomia é de 227 km, segundo o padrão Inmetro (no site da Fiat, ainda constam 320 km, mas essa informação deverá ser atualizada, conforme revela a montadora por meio da assessoria de imprensa). Já no painel do carro, com 100% de bateria, é exibida a autonomia de 260 km. Entretanto, o que vale mesmo são os 227 km pelo padrão Inmetro. Isso dá e sobra para a média do deslocamento médio diário dos consumidores, que é de 30 km. Testes realizados pela Fiat no Polo Automotivo de Betim (MG) indicaram que, rodando em condições ideais, o carro pode chegar a 460 km com uma única carga. Comparado a um motor a combustão, essa autonomia equivaleria a um consumo médio acima de 62 km/l de combustível, revela a montadora.
Durante o teste, o percurso máximo sem recarga foi de 80 km, pois como uma autonomia pequena não é possível se aventurar muito longe sem ter a certeza de que há carregadores pelo caminho. Andando de forma civilizada, sem acelerar demais, tranquilamente daria para rodar os 227 km apontados pelo Inmetro. Dessa forma, ao longo dos 645,8 km rodados, foram realizadas recargas diariamente.
Carregamento pode ser feito na tomada comum
O modelo vem com um cabo com 6 m de comprimento para carregamento doméstico, para ser conectado a uma tomada de três pinos em casa. Quando não está em uso, fica discretamente guardado no porta-malas. A tomada Type 2, localizada na lateral direita do veículo, permite o carregamento tanto em AC (corrente alternada) como em DC (corrente contínua) e pode ser programada para carregamento.
Em carregadores rápidos da WEG indicados pela Fiat e que podem ser comprados pelo consumidor, a carga completa pode se dar em até 4 horas. Em um sistema ultra-rápido de corrente contínua de até 85 kW, a montadora garante que são necessários apenas 5 minutos para obter uma recarga que permita rodar 50 km. Em 35 minutos, é possível recarregar até 80% da bateria.
O método mais utilizado durante o teste foi a velha e boa tomada caseira, plugada na minha garagem. Em 3 horas e meia, foi possível elevar o nível da bateria de 58% (144 km de autonomia) para 83% (187 km), por exemplo. Mas foi em um carregador ultra-rápido instalado em frente à concessionária Audi Top Car de Porto Alegre que vi a mágica acontecer: a bateria foi recarregada de 41% para 100% em apenas 50 minutos.
Resumo da Resenha
O 500e é único em design, mas não é o único elétrico do segmento dos hatches, onde os preços estão caindo abaixo dos R$ 200 mil, chegando até a R$ 150 mil – mas nesse caso sem o mesmo nível de equipamentos. Porém, para ser justo, o próprio 500e teve seu preço reposicionado – é o que é melhor, para baixo –, pois quando chegou ao Brasil custava R$ 239,9 mil, e hoje é vendido por R$ 214,99 mil. No mesmo patamar do Cinquecento elétrico, há o Peugeot e-2008 (R$ 209 mil) ou ainda o SUV Volvo EX30 (R$ 219,95 mil), só para citar dois exemplos.
Dito isso, vale reforçar que o 500e é rápido, divertido de dirigir e oferece boa gama de itens de assistência à condução, mas, assim como ocorre em outros elétricos, aumentar a autonomia é o principal ponto a avançar para que seus donos possam ir além da aldeia sem precisar recorrer a carros a combustão.