Carro atingido pela enchente tem solução? Saiba o que fazer e quanto custa recuperar os prejuízos causados pela água e pela lama
Além de irreparáveis perdas humanas, a maior tragédia climática registrada no Rio Grande do Sul também deixa um rastro de prejuízos materiais, como imóveis e estradas. Nem os carros escaparam da enchente: são milhares de casos em todo o Estado. Mas será que todos os veículos atingidos têm solução, inclusive aqueles em que a água chegou até o teto? E se entrou lama, ainda é possível recuperá-lo? Saiba o que fazer tanto nos casos em que há seguro total quanto nas situações em que não há cobertura.
Depois que a água baixou, se o nível ultrapassou o capô, não tente dar a partida no motor, sob risco de problemas ainda mais graves. Se tiver cobertura total, acione a seguradora. Se não tiver, chame um reboque ou guincho. Em seguida, contate uma empresa especializada em higienização para uma avaliação e orçamento. Quanto mais rapidamente for realizada a limpeza, melhor será o resultado. ‘‘Todo carro tem conserto, até aqueles que foram atingidos por lama mal-cheirosa, pois retiramos os painéis e forrações para lavagem ou substituição’’, garante o estofador e especialista em higienização de veículos Nelson Francisco da Silva, que tem 54 anos e atua há mais de duas décadas no segmento com o amigo Giani Andrei Cigognini. Com sede em Parobé (RS), a empresa atende a diversas regiões. Neste início de maio, Silva relata que o volume de trabalho aumentou dez vezes em função da enchente histórica, pois além de carros, a equipe recupera sofás e móveis.
Depois que o interior estiver higienizado, é hora de levar ao eletricista, para inspeção em componentes eletrônicos, como módulos, serviço que pode custar entre R$ 1 mil e R$ 3 mil, dependendo da gravidade. Por último, é a vez de uma rigorosa revisão mecânica, tanto de motor quanto da transmissão e freios. Mas nada de sofrer por antecedência: muitas vezes basta apenas trocar o óleo do motor. Porém, se entrou água nos cilindros e foi dada a partida, o prejuízo será muito maior em função do calço hidráulico, podendo ultrapassar R$ 5 mil. Confira, a seguir, o passo a passo para recuperar veículos atingidos por enchentes.
O que fazer quando o carro tem seguro total
Quem tem seguro total certamente está aliviado neste momento. O primeiro passo é ligar para o corretor ou para a seguradora, que vai acionar o guincho gratuitamente. De forma simultânea, é necessário fazer um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil de forma on-line ou presencial, detalhando o que aconteceu.
Na sequência, o veículo será levado pela seguradora a uma oficina credenciada, onde peritos farão inspeção completa, incluindo fotos para fins de documentação. Essa perícia vai mensurar o tamanho dos estragos e determinar se o carro estava parado ou em movimento. Após a emissão do laudo, caso a seguradora conclua pelo pagamento, vai efetivar a indenização no prazo médio de duas a quatro semanas. Muitas vezes é autorizado o conserto, mas quando a conta chega a 75% da cotação da Fipe, a seguradora dá perda total e indeniza 100% ou mais do valor do veículo, dependendo do que foi contratado na apólice. Na prática, a perda total ocorre quando a água passa da altura do painel do veículo. E isso não significa o fim do mundo, pelo contrário: muitos proprietários até preferem a perda total, pois na hora da revenda a desvalorização é muito grande. Vamos ser sinceros, né: por melhor que tenha sido o serviço de recuperação, quem vai querer comprar um carro que ficou submerso numa enchente?
Porém, é importante ressaltar que apenas o seguro contra terceiros não cobre esse tipo de sinistro, apenas o total, chamado também de cobertura compreensiva, que protege contra acidente, roubo, incêndio e alagamento. “Além disso, as seguradoras também não costumam conceder indenização nas situações em que o motorista tentar passar por uma área alagada e o automóvel ficar submerso’’, explica a corretora de seguros Cristiane Lima, que atua há 17 anos na área no Vale do Paranhana. Nesse caso, a seguradora considera a atitude um ato de imprudência, em que o condutor assume os riscos. Dessa forma, estão cobertas apenas as situações em que a água surpreendeu o proprietário e ele não conseguiu retirar a tempo o veículo da área alagada. Ou seja: danos causados diretamente pela enchente.
Mas como a empresa sabe diferenciar esses dois casos? Muito simples, pois nada escapa à perícia. Quando o motorista tenta atravessar um alagamento que supera a metade da altura das rodas do veículo, há diversos danos que não são registrados quando o carro está parado e desligado, como o calço hidráulico no motor, provocado pela entrada de água nos cilindros. Além disso, quando um automóvel tenta passar trecho de enchente, geralmente a placa dianteira acaba caindo devido ao impacto com a água.
O que fazer quando o carro não tem seguro total
A primeira dica é procurar uma empresa especializada em higienização. Nunca ligue o veículo, evitando danos no motor e na parte elétrica. Chame um reboque ou guincho. Depois de realizada a higienização, é necessário que um eletricista faça a avaliação dos componentes eletrônicos e um mecânico inspecione motor, caixa de câmbio e freios.
Casos leves: água até a altura dos bancos
Para os casos mais leves, em que a água entrou até a altura do carpete ou dos bancos, são retirados painéis, forros e bancos. Depois de lavados e secados, esses componentes são reinstalados. O carpete é lavado e o feltro que fica logo abaixo é substituído.
Tempo de serviço: 1 dia
Custo: cerca de R$ 800,00
Casos críticos: água até o teto do veículo
Para os casos mais graves, em que a enchente foi até o teto, também são retirados painéis, forros e bancos. O feltro abaixo do carpete é substituído, assim como as espumas dos bancos. São justamente essas espumas que elevam a conta, pois costumam ser caras, principalmente as das picapes. Já o couro e o tecido dos assentos são higienizados e podem ser reaproveitados. Um serviço bem feito não deixa qualquer tipo de cheiro, mesmo nos casos em que entrou lama misturada com água de esgoto.
Tempo de serviço: de 3 a 7 dias
Custo: em média R$ 3 mil para carros e R$ 5 mil para picapes
Cristiano teve dois carros completamente alagados em Igrejinha
“Como é que você não conseguiu salvar pelo menos o carro antes da água subir?’’ Essa é uma pergunta recorrente para os donos de veículos atingidos pelas cheias. O eletricista predial Cristiano Rodrigues, 45 anos, morador de Igrejinha, já tem a resposta na ponta da língua: “O Rio Paranhana transbordou muito rápido, como nunca visto na história. A gente estava envolvido com a mudança dos móveis e, minutos depois, quando voltei para olhar novamente os veículos, já não dava mais para movimentar os veículos’’, recapitula.
E não foi por falta de cautela: ele já havia retirado o seu Fiat Uno e o Chevrolet Prisma da garagem, que é mais baixa, e estacionado em frente à casa, na Rua Anita Garibaldi, bairro Figueira, próximo ao limite com Três Coroas, também seriamente afetada. A água apenas não tapou o teto dos carros. O prejuízo poderia ter sido ainda maior: só não foram inundados três veículos porque o Uno 1995 que ele usa para o trabalho estava em uma oficina de chapeação, localizada em um bairro mais elevado. A conta final da recuperação deverá ficar em R$ 5 mil para cada carro, totalizando pelo menos R$ 10 mil. “Eu me arrependo de não ter feito seguro, pois agora estaria bem sossegado. Assim que pegar um carro novo, vou providenciar uma apólice com cobertura total’’, garante ele, que também perdeu móveis na garagem, pois a água atingiu 1,70 metro e por pouco não chegou ao segundo pavimento.
Desconto para o serviço de higienização
Quem contatar a empresa de higienização e citar o site Carros e Carangas ganhará cupom promocional que garante 10% de desconto no serviço: (51) 9 9597-5055.